A review by el_russo
A Casa do Sono by Jonathan Coe

4.0

“As far as I know, the only reason we need to sleep that is really, really solid is because we get sleepy.”

Dr. William C. Dement, Sleep Research Center, Stanford University

A Casa do Sono é o quinto livro do autor britânico Jonathan Coe, originalmente publicado em 1997 e com edição portuguesa, pelas Edições Asa, de 2010. A ideia para a trama surge, precisamente, de duas histórias que andavam a maturar na mente do escritor: uma em que havia um grupo de estudantes que conviviam no mesmo ambiente, uma casa igualmente bela e sinistra, localizada no topo de uma falésia, sobranceira ao mar; na outra história, uma clínica de sono e um cientista com um plano maquiavélico, certo que está que o homem desperdiça cerca de um terço da sua vida a dormir.
Convergindo as duas histórias, Coe aproveita para criar espaços temporais diferentes para cada uma, com um espaço físico em comum para grande parte da trama (e que é, também, o seu ponto inicial): uma espécie de mansão, Ashdown, numa falésia de um inóspito litoral britânico. Assim, a acção do livro desenrola-se, através de capítulos alternados, entre os anos de 1983 e 1984 (ímpares) e as duas últimas semanas de Julho de 1996 (pares).
Partindo de quatro personagens principais (Sarah, Terry, Gregory e Robert), é dada ao leitor a possibilidade de ir desvendando a história, pela mão das prolepses que vão sendo inseridas ao longo das páginas. Muitas dessas pistas futuras não são imediatamente assimiladas mas Coe, com um desenvolvimento das personagens exemplar, consegue com que no final tudo faça sentido numa intrincada teia de pormenores. Esses pontos de contacto, essenciais para a compreensão do todo da história, resultam ainda da criação de personagens que não sendo secundárias, tornam-se mais relevantes que um figurante.
Uma história de ficção vive disto, das excentricidades e peculiaridades de cada um. Um livro torna-se, então, nada mais que um condensar de realidades absurdas, mas existentes, que populam o quotidiano humano. E Jonathan Coe faz, com A Casa do Sono, um trabalho exemplar nesse aspecto.