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mathiaseichbaum 's review for:
Madame Bovary
by Gustave Flaubert
Explicitamente antirromântico, é visto como um fundador do realismo, embora Flaubert negasse essa denominação. O que mais me pegou é essa sensação de Emma, de sempre querer buscar algo mais no amor, essa espécie de ganância dos sentimentos. O trecho impresso na contracapa é realmente bastante representativo: "Antes de se casar, ela achava ter amor; mas não tendo chegado a felicidade que deveria resultar desse amor, era preciso que ela tivesse se enganado, pensava. E Emma buscava saber o que exatamente se entendia na vida pelas palavras felicidade, paixão e embriaguez, que lhe tinham parecido tão belas nos livros". Ela é de um romantismo até tosco - provincial, como todos os outros personagens. A história de sua tragédia, bem como o tom irônico de todo o livro, expressam bem que esse sentimento romântico não é um valor a ser perseguido e é, no limite, falso. Basta ver que, no fim, tanto Léon quanto Rodolphe se recusam a ajudar Emma com o dinheiro. Mas a personagem de Emma é muito interessante. Ela habita esse mundo da mediocridade - desde seu marido até Homais, o vizinho farmacêutico adepto ao progresso, ninguém tem nem um pingo de inspiração. Apenas ela e Léon têm essa inspiração romântica, esse desejo pela beleza, pelo algo maior, pelo gozo etc. Mas também são medíocres, na medida em que, como os outros, só repetem platitudes. Ainda assim, com toda as traições e futilidade da compra constante de mais e mais objetos, Emma é a única personagem que pode sustentar o interesse do leitor ao longo do romance. Esses desejos por algo maior, ainda que "falsos", são nela verdadeiros, à medida que demonstram toda a sua angústia com a vida, toda a sua insatisfação e desejo de sempre buscar algo mais. É impossível não criar alguma simpatia com ela, na medida em que é a mais humana ali, um ser complexo e cheio de suas próprias nuances.
Ela acaba se matando ao ingerir arsênico e Charles Bovary morre não muito tempo depois, já tendo descoberto as traições da mulher, que por tanto tempo não quis ou não conseguiu perceber. Sobra uma vida difícil para Berthe, a filha dos dois, que é adotada por uma tia, que a manda trabalhar em uma fábrica. E os outros personagens seguem sua vida. Léon se casa; Homais consegue uma cruz de honra e Rodolphe segue sua libertinagem egoísta. Os ideais de romantismo morrem, mas também não são lamentados.
Me lembrou muito a novela "Três Anos", de Tchekhov, que claramente foi fortemente influenciado por Flaubert.
Ela acaba se matando ao ingerir arsênico e Charles Bovary morre não muito tempo depois, já tendo descoberto as traições da mulher, que por tanto tempo não quis ou não conseguiu perceber. Sobra uma vida difícil para Berthe, a filha dos dois, que é adotada por uma tia, que a manda trabalhar em uma fábrica. E os outros personagens seguem sua vida. Léon se casa; Homais consegue uma cruz de honra e Rodolphe segue sua libertinagem egoísta. Os ideais de romantismo morrem, mas também não são lamentados.
Me lembrou muito a novela "Três Anos", de Tchekhov, que claramente foi fortemente influenciado por Flaubert.