A review by saintalia
I Who Have Never Known Men by Jacqueline Harpman

dark emotional reflective sad medium-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? Yes

5.0

Oh Deus… Que livro!!!! É tão especial experimentar uma leitura que te imerge, te estripa de tudo que te forma e te constrói de novo - completamente diferente. E esse livro me fez isso. A escrita de Harpman e a delicadeza da tradução de Ros Schwartz combinadas criaram uma obra tão linda e sensível que é desconcertante. A narrativa em primeira pessoa, justamente contada pela personagem mais “diferente”, te coloca neste planeta desconhecido - ou uma Terra pós-apocalíptica - de uma maneira muito singular, e graças a Deus por isso.

A falta de contato físico e emocional desde muito cedo, o ordinário humano desconhecido, o corpo mal-desenvolvido e a ignorância do masculino formam a personagem principal de uma maneira tão particular, analítica e especial que, viver essa situação traumática pelo viés dela, te faz se conectar com a história de uma maneira que, um relato humano “comum”, talvez não conseguiria.

É lindo como mesmo que ela se reconheça e se descreva como “desumana”, insensível e diferente das outras mulheres, ela relate sentimentos (que jura não entender) como esperança, medo, alegria, decepção, desesperança, desespero, desconsolo e, principalmente, luto, da forma mais humana possível. As mortes misericordiosas, os rituais pós-mortem, a afeição com que ela pensa nas companheiras póstumas, a relação com Anthea, a ânsia pela experiência humana e, numa nota mais similar ao título do livro, pelo contato com o masculino (que pretendo falar mais depois)… Não há nada mais humano do que isso.

É explicito na novela a falta de homens na convivência dessas mulheres e o vácuo que isso causa nas vidas delas. As famílias deixadas para trás, as paixões, sonhos, e no caso da narradora, o completo desconhecimento do masculino. É o título do livro e uma fonte de ponderação para todas as personagens - e para os leitores. Seria diferente com homens ali? Agiriam diferentemente? Alcançariam alguma outra conclusão? Sofreriam mais, menos? 

Indo mais longe, a alusão de jaulas e guardas >homens< com chicotes as guardando de uma liberdade é uma análise possível da obra. O fato dessa liberdade, quando alcançada, ser tão desesperadora quanto a prisão, por conta da solidão, perda do inesperado intrínseco à vida, falta de propósito, mostra o intuito da obra: com a liquidação das relações humanas, o que restará?

E, para mim, mais do que tudo, I Who Have Never Known Men é sobre isso: relações humanas. Como a proibição do contato físico moldou a personagem principal e traumatizou suas companheiras, como essas relações, apesar de tudo, são o fio que nos sustenta em situações adversas, como são necessárias para que mantenhamos sanidade, propósito. Mais especificamente, como a irmandade dessas mulheres as sustentaram até o fim, mesmo que na pior vida possível, porque umas as outras era tudo o que elas tinham - mesmo após a morte. E como, aqui na Terra, para muitas de nós, a situação é a mesma.