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fsales 's review for:

Correntes by Olga Tokarczuk
3.75
challenging funny medium-paced
Plot or Character Driven: N/A
Strong character development: N/A
Loveable characters: N/A
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: No

(19 de maio de 2025)

Começarei dizendo que talvez eu precise ainda um pouco mais de tempo para entender exatamente o que eu li (se é que chegarei neste ponto).

Foi - talvez! - uma das experiências mais inusitadas de leitura que já tive? E digo inusitada pelo fato de que eu não sei nem bem como decifrar a estrutura narrativa deste livro. São contos? São memórias? São recortes pontuais e específicos da sociedade?

Fato é que em "Correntes" a Olga decide focar em um tema - movimento - e apresentá-lo de uma forma bem audaciosa através de histórias ou breve passagens que tenham o movimento como norte (ou sul, ou leste ou oeste).

É, acima de tudo, um livro sobre ir e vir, sobre peregrinar, sobre viajar, sobre explorar. Eu, como amante de viagens, me identifiquei tanto em tantas passagens, que foi quase impossível não dar aquela vontade de já planejar minha próxima aventura.

Eu ri alto em vários momentos, vários. Como quando ela comparou um aeroporto com uma cidade-estado, ou quando trouxe as curiosidades que leu em embalagens de absorventes (!!!). E em tantos outros eu me desconectava completamente do que estava lendo (alô trechos detalhados de biologia). Foi uma viagem meio diferentona mesmo. E no mínimo interessante. Apesar de que nesses momentos de desconexão eu percebia que estava sendo bem difícil a leitura. Ou seja, foi uma grande mistura de amor e des-amor constante.

Mas algo que se mantém na escrita dela (este é o 2o "romance" que leio dela) é definitivamente a maestria que ela tem ao narrar histórias. A criar personagens do absoluto zero e em algumas páginas, já ser possível se sentir muito íntima de cada um deles.

Aqui foi um pouco assim. Bem menos que em "Sobre os Ossos dos Mortos" (que amei muito!), mas ainda tive essa sensação em vários momentos e inesperadamente. Porque ela vai criando histórias bem pontuais mesmo, que chegam, se apresentam e vão embora rapidinho para nunca mais voltar. São raras as que voltam. Mas várias delas eu acho que vão ficar em mim.

E apesar de ter tido algumas passagens que cansavam bastante, eu acho que queria ter passado mais tempo com o livro, para ter conseguido lê-lo com total atenção e poder saborear as preciosidades que a Olga ia nos trazendo. Talvez o que me prejudicou um pouco foi que eu estava mais na vibe de uma leitura linear, e esta foi bem longe disso.

Por fim, não posso deixar de dizer que a última grande história no livro ("Kairós") teve um dos desfechos mais lindos que já li.
A passagem sobre a morte do professor foi algo tão, mas tão perfeito, poético e lindo, que eu fiquei emocionada e senti como se tivesse me despedindo junto, enquanto ele era banhado pela morte. Que maravilhoso que foi.


É uma leitura difícil, eu diria. E definitivamente não é para todo mundo. É preciso estar disposto a algo realmente diferente do convencional. Se for para ler algo dela como primeira vez, eu indico o "Sobre os Ossos dos Mortos". Mais seguro. Depois venha para esse e jogue-se nessa aventura!

Boa viagem!