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4.0

Uma das coisas que mais gosto quando leio um livro é que me leve a reflectir, ainda que com base em fantasia como foi o caso deste livro, tal como já tinha acontecido com As Primeiras Quinze Vidas de Harry August, primeiro livro que li desta autora.

Neste livro há duas situações paralelas e que me deixaram a pensar. Primeiro, Hope, a nossa narradora, é uma pessoa de quem ninguém tem memória. Logo que Hope sai de perto, quem esteve com ela esquece-se que ela existe. Hope apenas vive nas memórias digitais, em fotos ou gravações. Ninguém a retém na memória e, por isso, Hope não tem família ou amigos ou qualquer relação duradoura. Será essa condição uma libertação ou uma maldição? como será viver nessas circunstâncias?

E depois temos Perfection, uma aplicação que quer tornar as pessoas perfeitas. Que diz o que devem ou não comer, o que devem fazer, as idas ao ginásio, as roupas, as relações, os trabalhos. Tudo, mas mesmo tudo, controlado por uma aplicação no telemóvel, e que recompensa, com pontos, sempre que são seguidos os seus conselhos, sendo que, quando se atinge um determinado número de pontos se tem acesso ao clube restrito dos perfeitos. Levado ao exagero, não será, mais ou menos, o que já acontece na sociedade, condenando quem é maior, mais forte ou até diferente?

Claire North leva-nos a questionar, em vários pontos do livro, sobre a sociedade actual, sobre a nossa própria vida, sobre o esquecimento - desejado ou não. A liberdade do esquecimento e a escravatura da perfeição, em quatrocentos e cinquenta páginas escritas por uma autora que, pelos vistos, gosta de nos puxar pelas ideias, de nos obrigar a pensar fora da caixa, de forma absorvente, intensa e emocional.

Creio que, sem exagero, me estou a tornar numa fã desta autora...