A review by anaplopes
Iracema by José de Alencar

IRACEMA
José de Alencar - 1865

Ler esse livro hoje, com meus quase vinte anos, depois de ter abandonado a leitura quando fui obrigada a lê-lo pela primeira vez com meus 16, por ser uma leitura obrigatória do vestibular só reforça a minha opinião: querer obrigar adolescentes a lerem livros de literatura brasileira clássica antes da hora não faz nenhum bem, na verdade, só atrapalha mais. Por quê? Porque o jovem vai tomar raiva da literatura brasileira, vai odiar com todas as suas forças os "vosmecê" da vida e, no fim, vai desistir do mundo da leitura antes de ter a chance de realmente prová-lo e aproveitá-lo.
Mas enfim, depois de expressar minha indignação com o atual sistema de ensino da literatura no país, falemos sobre o livro. A história não é grande surpresa pra qualquer um que tenha tido a noção de literatura no ensino médio: um homem branco e uma índia que se apaixonam, em uma alegoria que representa o início e a formação do estado do Ceará.
Confesso que o estilo de escrita de José de Alencar não me encanta muito - isso também aconteceu quando tentei ler Senhora, outro dos seus livros. Os conflitos apresentados são resolvidos com muita pressa e simplicidade, e não há narração dos detalhes em diversos momentos. Citam que um personagem foi pra guerra, mas no próximo parágrafo tudo já está resolvido, sendo que esse foi sim um grande marco e diferencial na história, por exemplo. E ao mesmo passo que isso acontece, as descrições e comparações com elementos da natureza são intermináveis. Sim, eu sei que isso é uma característica do movimento romantista que Alencar fazia parte, mas as enormes notas de rodapé explicando animais e plantas não foram do meu agrado. Talvez seja porque esteja acostumada demais com o estilo narrativo mais contemporâneo e mais moderno, mas isso me estranhou e me decepcionou, de certa forma.
O grande x da questão, que é também um aspecto extremamente cobrado nas provas de vestibulares e qualquer estudo sobre o livro, do Segredo de Jurema, é jogado pro escanteio com uma velocidade impressionante depois de alguns acontecimentos. Talvez eu quem não fui capaz de compreender a mensagem do livro e a resolução dos conflitos, mas realmente não foi pra mim.
A própria personalidade dos personagens, com Martim recebendo os louros de grande herói (sendo que não o foi, se é pra ser sincera e dar minha opinião), não me agradaram. Isso tudo me leva a dizer que o livro é bom, mas não ótimo. Foi uma boa leitura, não pretendo reler e, para não desgostar completamente do autor, tomei a decisão de me afastar das suas obras por agora. Quem sabe no futuro surja outra oportunidade.