A review by rui_leite
O Trono de Jade by Naomi Novik

3.0

Quando peguei neste livro, mais para matar tempo entre outros, já não me lembrava porque é que, após o primeiro, de que até gostei, levei tanto tempo a continuar.

Agora já me lembro.

Naomi Novik tem uma capacidade enorme para criar um mundo bastante consistente metendo dragões ao barulho no meio das guerras napoleónicas. Nota-se que a senhora não é ignorante em termos históricos e, tirando os répteis (acho que são répteis?) voadores com meia dúzia de toneladas, muita coisa poderia ser lida como romance histórico straight. A viagem no porta-dragões até à China (Get it? Like porta-aviões, só que transporta dragões!) que ocupa quase dois terços deste segundo livro (far too long for my liking), por exemplo, tinha quase tudo para ser credível como um relato de uma longa (loooonga) viagem marítima no século XVIII, se bem que com as partes mais abadalhocadas um nadinha toned down.

E essa, no fundo, é a minha grande birra. Para algo passado num mundo em guerra toda gente é demasiado...impecável. Principalmente quando a história é contada do ponto de vista dos aviadores que, no mundo de Novik, são os patinhos feios das forças armadas britânicas. Devia haver ali um bocado mais de "grit". Mas não, toda a gente é educada, corajosa e honrada. Por exemplo, a única falha que consigo encontrar no piloto de Témerarire, Laurence, é a sua tendência a ser ligeiramente preconceituoso - no primeiro livro agarrado à sua formação naval e o quanto a marinha era mais cool que a força aérea e, no segundo, o seu anglocentrismo e o quanto os ingleses eram mais cool que os chineses - e, mesmo assim, é sempre bastante educado quanto a isso, aprendendo e admitindo os seus erros no final.

É mais fácil aceitar esse grau tão grande de ausência de defeitos nos dragões, já que são uma espécie diferente e sabemos lá o que raio lhes vai nas cabeças(Temeraire, por exemplo, faz-me lembrar um cãozinho gigante que, por acaso, voa e fala...como sou uma "dog person" até simpatizo com isso)...mas os humanos, infelizmente, não são assim tão perfeitos.

Eu poderia até ignorar isso se conseguisse olhar para estes livros mais como relatos de aventuras fantásticas do que como "romance histórico com um bocado de fantasia pelo meio"... mas aí é que a coisa se complica, porque as descrições, os detalhes, o ritmo, não são os de um livro de aventura, são claramente, os de um romance histórico. Não desgosto disso, entenda-se, aliás é precisamente essa construção muito bem conseguida e, incrivelmente, bastante plausível, de um século XVIII alternativo com dragões por todo o lado, que dá gosto à narrativa e a faz sobressair. Mas se as personagens tivessem tanto sal como o resto do universo em que se movem aí sim, isto seria absolutamente fantástico. Assim ao pé de outros autores que fizeram a mesma mistura de história e fantasia (Susanna Clarke, salta-me à mente), Novik sai a perder.

Não o suficiente para eu não ler o terceiro livro, entenda-se... apenas o suficiente para eu não o fazer já a seguir.