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A review by patriciasjs
A Rainha Corvo by Jules Watson
4.0
http://girlinchaiselongue.blogspot.pt/2013/01/opiniao-rainha-corvo.html
Nascida na Austrália e filha de pais ingleses, Jules Watson há muito que é fascinada por lendas Celtas e não foi difícil convencer o marido, escocês por nascimento, que precisava de viver no meio das brumas e terras altas da Escócia, cercada por magia e mitos senão morreria. Quando não está a escrever novos livros sobre histórias passadas e terras místicas, gosta de se sentar frente à lareira enquanto a chuva caí lá fora ou de ir ao pub local ouvir o marido tocar música típica escocesa.
O seu amor pelos Celtas influenciou não só a escrita como outras decisões da sua vida como a licenciatura em arqueologia, cujos conhecimentos usa para tornar os seus livros mais verosímeis. É, também, licenciada em Relações Públicas e já teve muitos trabalhos diferentes antes de se dedicar escrita, desde escritora freelancer à arqueóloga passando pelo trabalho nas minas e à consultora de relações públicas. Apesar de ter apenas dois livros traduzidos em Portugal, que apesar de independentes se relacionam com o mesmo ciclo mitológico celta, o ciclo de Ulster, a autora tem mais uma trilogia passada na Escócia do tempo da invasão romana, a trilogia Dalriada.
Situada no mesmo espaço de tempo que A Lenda do Cisne, a história da rainha Maeve partilha com esta a mesma beleza, o mesmo encanto e a mesma magia que apenas as lendas místicas são capazes de transmitir. Num tempo longínquo em que os mitos ganham vida, em que os filhos dos deuses caminhavam entre os homens e os druidas e os sidhé ainda tinham algo a dizer sobre o desenrolar da vida, uma mulher vai sobressair de entre a ira e a força bruta dos homens para unir o que a ambição do homem separa, para ser a personificação da Deusa, da Mãe e da Mulher entre o seu povo e o salvar e proteger da loucura trazida pela luxúria, pelo ódio e a inveja. Num relato, onde a astúcia, a coragem e o poder antigo ganham vida, guerreiros batalham pela justiça e pela glória, druidas concedem a vontade das estrelas e amores mortais nascem das brumas.
Com Deirdre, Maeve partilha um homem que lhes trouxe apenas infelicidade, dor e medo mas é aí que acabam as parecenças com a protagonista de A Lenda do Cisne. Usada como joguete nas mãos dos homens, incluindo o próprio pai, depressa aquela que foi rainha três vezes percebe que nunca será mais do que uma moeda de troca destinada a perder tudo o que ama e a ser subjugada à brutalidade, a menos que se insurja e lute por um lugar entre aqueles que tanto a fizeram sofrer. De donzela usada a guerreira lasciva, Maeve é capaz de tudo para não ver o seu povo submetido à vontade de um louco que a magoou mil vezes, mesmo que tenha de matar, mesmo que tenha de desistir dos anseios do seu coração, mesmo que tenha de se tornar a rainha fria e mortal que nunca quis ser. Por baixo da crueldade e astúcia do seu semblante, a Rainha Corvo esconde segredos obscuros, dores demasiado dolorosas, perdas que a marcaram tão fundo quanto o gume de uma espada e um amor que não aceita a ter ser tarde demais.
Tanto rainha guerreira renascida das lendas como mulher e mãe mortal, Maeve vai comandar toda esta narrativa com a mesma presença com que comanda os seus exércitos e nela teremos um vislumbre de todas as mulheres pois ela é a Mãe e a Deusa, ela personifica a feminilidade e a fertilidade em toda a sua força e garra. Nesta personagem, Jules consegue incorporar tudo o que significava ser mulher nesta época, desde o papel quase raro de mulher de armas ao de amante e mãe. Tanto doce como fria, tanto lasciva como controlada, Maeve é tudo isso, é tudo o que significa ser mulher.
Numa narrativa brilhante, onde mitos celtas, história e ficção se misturam com primor, a escrita de Jules é poderosa, evocativa de antiguidade, de sangue e misticismo. É de uma forma apaixonante que a autora dá vida a heróis de espadas, druidas, reis e rainhas, dando às suas personagens tanto divindade como humanidade, umas vezes tão perto de nós e outras tão inalcançáveis. Cheios de honra, lealdade e vontades próprias, cada um segue o caminho que acha mais correcto e cada um vai lutar até ao último suspiro por aquilo em que acredita. No decorrer desta leitura, muitas são as emoções que nos assaltam, desde à raiva ao medo, do orgulho à admiração, enquanto o desenrolar da vida típica de um povo nos é mostrado nestas páginas. Pormenores das crenças e religião celtas, da vida diária e da guerra, enriquecem este relato que dá vida a um dos mitos mais conhecidos deste povo, permitindo que vejamos para lá dos heróis que foram enaltecidos como escolhidos dos deuses. Entre batalhas sangrentas que evocam a coragem de tempos passados, uniões místicas cheias de profundidade e as demonstrações de poder dos reis, A Rainha Corvo é um hino à cultura mas principalmente, à essência do povo celta.
Forte em momentos marcantes e recheado de misticismo, este livro tem o dom de nos transportar para lá do passado e fazer-nos sentir o cheiro do mar misturado com os dos campos, faz-nos ver céus tão azuis como tumultuosos e ouvir os cânticos tanto de guerra como de amor que uma vez ressoaram pelas planícies de outros tempos. Uma obra digna da história que conta, A Rainha Corvo deve ser lido pelos que adoram lendas, pelos que se fascinam pelos Celtas e admiram aqueles que pelas mãos criaram o berço do nosso mundo.
Nascida na Austrália e filha de pais ingleses, Jules Watson há muito que é fascinada por lendas Celtas e não foi difícil convencer o marido, escocês por nascimento, que precisava de viver no meio das brumas e terras altas da Escócia, cercada por magia e mitos senão morreria. Quando não está a escrever novos livros sobre histórias passadas e terras místicas, gosta de se sentar frente à lareira enquanto a chuva caí lá fora ou de ir ao pub local ouvir o marido tocar música típica escocesa.
O seu amor pelos Celtas influenciou não só a escrita como outras decisões da sua vida como a licenciatura em arqueologia, cujos conhecimentos usa para tornar os seus livros mais verosímeis. É, também, licenciada em Relações Públicas e já teve muitos trabalhos diferentes antes de se dedicar escrita, desde escritora freelancer à arqueóloga passando pelo trabalho nas minas e à consultora de relações públicas. Apesar de ter apenas dois livros traduzidos em Portugal, que apesar de independentes se relacionam com o mesmo ciclo mitológico celta, o ciclo de Ulster, a autora tem mais uma trilogia passada na Escócia do tempo da invasão romana, a trilogia Dalriada.
Situada no mesmo espaço de tempo que A Lenda do Cisne, a história da rainha Maeve partilha com esta a mesma beleza, o mesmo encanto e a mesma magia que apenas as lendas místicas são capazes de transmitir. Num tempo longínquo em que os mitos ganham vida, em que os filhos dos deuses caminhavam entre os homens e os druidas e os sidhé ainda tinham algo a dizer sobre o desenrolar da vida, uma mulher vai sobressair de entre a ira e a força bruta dos homens para unir o que a ambição do homem separa, para ser a personificação da Deusa, da Mãe e da Mulher entre o seu povo e o salvar e proteger da loucura trazida pela luxúria, pelo ódio e a inveja. Num relato, onde a astúcia, a coragem e o poder antigo ganham vida, guerreiros batalham pela justiça e pela glória, druidas concedem a vontade das estrelas e amores mortais nascem das brumas.
Com Deirdre, Maeve partilha um homem que lhes trouxe apenas infelicidade, dor e medo mas é aí que acabam as parecenças com a protagonista de A Lenda do Cisne. Usada como joguete nas mãos dos homens, incluindo o próprio pai, depressa aquela que foi rainha três vezes percebe que nunca será mais do que uma moeda de troca destinada a perder tudo o que ama e a ser subjugada à brutalidade, a menos que se insurja e lute por um lugar entre aqueles que tanto a fizeram sofrer. De donzela usada a guerreira lasciva, Maeve é capaz de tudo para não ver o seu povo submetido à vontade de um louco que a magoou mil vezes, mesmo que tenha de matar, mesmo que tenha de desistir dos anseios do seu coração, mesmo que tenha de se tornar a rainha fria e mortal que nunca quis ser. Por baixo da crueldade e astúcia do seu semblante, a Rainha Corvo esconde segredos obscuros, dores demasiado dolorosas, perdas que a marcaram tão fundo quanto o gume de uma espada e um amor que não aceita a ter ser tarde demais.
Tanto rainha guerreira renascida das lendas como mulher e mãe mortal, Maeve vai comandar toda esta narrativa com a mesma presença com que comanda os seus exércitos e nela teremos um vislumbre de todas as mulheres pois ela é a Mãe e a Deusa, ela personifica a feminilidade e a fertilidade em toda a sua força e garra. Nesta personagem, Jules consegue incorporar tudo o que significava ser mulher nesta época, desde o papel quase raro de mulher de armas ao de amante e mãe. Tanto doce como fria, tanto lasciva como controlada, Maeve é tudo isso, é tudo o que significa ser mulher.
Numa narrativa brilhante, onde mitos celtas, história e ficção se misturam com primor, a escrita de Jules é poderosa, evocativa de antiguidade, de sangue e misticismo. É de uma forma apaixonante que a autora dá vida a heróis de espadas, druidas, reis e rainhas, dando às suas personagens tanto divindade como humanidade, umas vezes tão perto de nós e outras tão inalcançáveis. Cheios de honra, lealdade e vontades próprias, cada um segue o caminho que acha mais correcto e cada um vai lutar até ao último suspiro por aquilo em que acredita. No decorrer desta leitura, muitas são as emoções que nos assaltam, desde à raiva ao medo, do orgulho à admiração, enquanto o desenrolar da vida típica de um povo nos é mostrado nestas páginas. Pormenores das crenças e religião celtas, da vida diária e da guerra, enriquecem este relato que dá vida a um dos mitos mais conhecidos deste povo, permitindo que vejamos para lá dos heróis que foram enaltecidos como escolhidos dos deuses. Entre batalhas sangrentas que evocam a coragem de tempos passados, uniões místicas cheias de profundidade e as demonstrações de poder dos reis, A Rainha Corvo é um hino à cultura mas principalmente, à essência do povo celta.
Forte em momentos marcantes e recheado de misticismo, este livro tem o dom de nos transportar para lá do passado e fazer-nos sentir o cheiro do mar misturado com os dos campos, faz-nos ver céus tão azuis como tumultuosos e ouvir os cânticos tanto de guerra como de amor que uma vez ressoaram pelas planícies de outros tempos. Uma obra digna da história que conta, A Rainha Corvo deve ser lido pelos que adoram lendas, pelos que se fascinam pelos Celtas e admiram aqueles que pelas mãos criaram o berço do nosso mundo.