A review by jiangslore
Herdeiras do Mar by Mary Lynn Bracht

challenging emotional hopeful sad medium-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? Yes
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? It's complicated

5.0

[5/5]

Primeiramente, é importante destacar que “Herdeiras do Mar” não é uma leitura fácil. O livro narra a história de uma adolescente que, para salvar a irmã, acaba sendo forçada a se tornar uma “mulher de consolo” — então dá para perceber que a temática, por si só, não é leve. Mas acredito que é bom destacar que o livro se limita a ter um tema “pesado”: há cenas explícitas de violência sexual, de modo que, se você tiver algum tipo de sensibilidade para o tema, não recomendo a leitura. Por outro lado, se essa não for uma questão para você, definitivamente recomendo “Herdeiras do Mar”.

Acredito que escrever sobre temas complexos e situações traumáticas, por si só, é algo extremamente difícil. Entretanto, a dificuldade é ainda maior quando tais temáticas possuem envolvimento com eventos históricos; em especial aqueles que permaneceram escondidos por décadas e que ainda enfrentam dificuldades em seu reconhecimento pelos países responsáveis. Um dos aspectos mais positivos de “Herdeiras do Mar”, na minha opinião, foi a percepção de que a autora tinha plena consciência dessa dificuldade e das limitações inerentes que uma obra de ficção possui nesse contexto. 

Desse modo, apesar de ser perceptível a pesquisa e o esforço da autora em relatar eventos históricos de uma forma que fosse realista e que possibilitasse certo aprendizado para o leitor, também é possível perceber que a preocupação maior dela foi com a narração da vida das duas personagens principais, as irmãs Hana e Emi. O leitor acompanha os impactos que a invasão japonesa, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia tiveram para ambas; e, nesse processo, pode ver que as duas personagens principais são extremamente interessantes e bem desenvolvidas, em especial nas relações que elas tem entre si e com os outros membros de sua família. 

Além disso, algo que achei muito interessante em “Herdeiras do Mar” foi o fato de que, apesar de, a partir da sinopse e dos eventos históricos que fazem parte da história, já ser possível entender quais serão alguns dos pontos mais importantes para a narrativa, o enredo não foi “chato” ou “entediante”. Na verdade, ele foi bem envolvente, e a ordem em que diversos fatos são contados, bem como o modo de divisão dos capítulos, possibilitou uma leitura cheia de surpresas e acontecimentos que prendem o leitor. “Herdeiras do Mar” é um daqueles livros que faz com que você não queira parar de ler — até o ponto em que ele faz com que você não consiga ler mais, porque não quer que acabe. 

Outro ponto importante com relação ao enredo é o fato de que, apesar de ser inevitável que ocorram cenas pesadas de abuso sexual em razão do tema, nada disso foi narrado de uma forma irresponsável. O leitor consegue ver a dor de Hana da forma mais terrível possível e é apresentado a outras mulheres que passam pela mesma dor, mas nenhuma delas é reduzida às situações pelas quais passaram. 

Por outro lado, acredito que a escrita do livro foi um aspecto que não foi tão positivo assim. Penso que, em alguns momentos, ela foi simples ou direta demais. Mas, no final das contas, acho que isso não importa tanto, porque o estilo de escrita da autora serviu incrivelmente bem para o propósito da história e para tornar a leitura, que poderia ser extremamente densa e desconfortável, em algo mais palatável.

Por fim, acredito que uma das maiores virtudes de “Herdeiras do Mar” é a existência de um equilíbrio entre a vontade de reescrever a história e possibilitar que uma jovem que passou por tantas coisas difíceis possa ter um final menos triste e a consciência de que é importante relembrar a dureza da realidade. O livro traz, de uma forma muito bonita e sensível, a ideia de que às vezes cabe à nós fazer as pazes com a dor que nos foi imposta por outrem; e que a cura é uma ferramenta quase tão útil quanto a indignação. 

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