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j_elphaba 's review for:

Menina de Ouro by Chris Cleave
4.0

(Tenho muita vontade de dar 5 estrelas...)

Ora aqui está uma sinopse que não engana…
Este é, com toda a certeza, um livro extraordinário, concebido para marcar e sensibilizar ao descrever na perfeição o conflito entre os desejos e idealizações do Ser com a realidade dura a que por vezes a condição humana está sujeita quando levada ao limite.
Muito especial, esta é uma ficção que nos conta várias histórias singulares, que se unificam com primor e se tornam inesquecíveis pela sua proximidade ao real. Da mesma forma, a beleza da escrita de Chris Cleave atribui uma profundidade reflexiva e tocante, tanto em relação a questões comuns como a casos excepcionais que, com o mesmo nível de interesse, provocam uma ansiedade de leitura crescente.

Informo, desde já, que é difícil não cometer spoilers neste comentário, a própria sinopse - feita de elogios merecidos - não conta muito acerca do que trata a narrativa, mas vou fazer um esforço para reunir um máximo contido de informação em poucas linhas.

No presente, e pela primeira vez, Kate e Zoe têm oportunidade de ir juntas aos jogos olímpicos de Londres. Embora sejam muito distintas, desde a juventude que estas duas personagens caminham lado a lado e, mesmo com perspectivas, valores, diferentes de como viver a vida, os traços em comum entre ambas são evidentes, sejam eles pelas muitas horas de treino compartilhadas, ou pelos dois homens que acompanham os seus percursos - Jack, o marido de Kate e Tom, o treinador de ambas. Mas existe um segredo, um segredo dos quatro, que pode fazer ruir a estabilidade, por vezes precária, que todos lutam para manter, uma estabilidade necessária para conquistar. Trata-se de um segredo capaz de destruir as suas carreiras, os seus sonhos e, até, a mais preciosa de todas as vidas no contra-relógio, imparável, do destino.

Complexa, Menina de Ouro é uma narrativa que nos conduz entre o passado e uma actualidade expectante de vidas diversas, de protagonismos diversos, e embora exista uma atenção cuidada para com Kate e Zoe, durante a leitura é dada a oportunidade de conhecer minuciosamente cada um dos intervenientes.
Doce, generosa e repleta de coragem, assim é Kate, uma mulher especial e com um coração do tamanho do mundo. Zoe, por seu lado, é tempestade, é ambição, é uma mente irreverente e incompreensível, ela é repleta de monstros e, por vezes até, maldosa - o leitor poderá ter muita dificuldade em compreende-la. Elas são opostos, violentos e fortes, que partilham como destino e paixão o ciclismo, e a teia que vamos desenleando em torno seu pequeno universo é tão mais fascinante, tão mais intensa, que Tom, Jack e Sophie, a filha de Kate, partilham o seu lugar de destaque.

Tom compreende-as, sofre os seus dramas e conquistas como se fossem os seus, como que amealhando as migalhas de algo que nunca conseguiu provar, é mais do que um amigo, é alguém que mesmo na última estação da vida ainda tem algo para colher das mulheres que viu florescer. Quando a Jack não há muito a dizer, é um homem com todos os defeitos e inseguranças, é um campeão de que nem sempre se gosta mas no qual se encontra um bom fundo. E Sophie, a pequena e maravilhosa Sophie, foi a minha personagem favorita e despertou em mim uma emoção avassaladora. Como jovem que trava a maior e mais injusta de todas as batalhas, enternece quando explode em sagacidade e inocência corajosas, é um pequeno grande exemplo que me marcou.

Quando aos temas abordados são imensos e todos eles de tal maneira pertinentes que me dariam para escrever páginas e mais páginas, mas não o farei, claro, por isso vou destacar os que considerei mais relevantes.
Temos a dicotomia alta competição e fama, onde autor explora os problemas associados à comunicação social e a uma imagem popular, bem como o esforço e a entrega necessários a atletas de topo - onde sobram lágrimas, alegrias e tudo aquilo de que se abdica em nome do sucesso. É também tratada a dicotomia vida e morte, através de Sophie que tem leucemia (não é spoiler, está evidenciado logo nas primeiras páginas), e esta é uma questão tão triste quanto fascinante por nos ser dada uma perspectiva diferente, quase infantilizada, de uma criança. E, não menos importante, é tudo o que pode estar associado a relações disfuncionais e de parentalidade sendo, esta última, uma questão de reflexão profunda para quem se permitir a tal durante e após leitura.

Opinião completa: http://historiasdeelphaba.blogspot.pt/2013/04/menina-de-ouro-chris-cleave-opiniao.html