Take a photo of a barcode or cover
Nabokov é um dos escritores que mais respeito, nomeadamente pelo seu virtuosismo formal, ou capacidade para laborar o texto como se de uma jóia se tratasse. Contudo nesta obra esse labor torna-se excessivo, adquirindo estatuto de predominância sobre tudo o resto, não apenas sobre a história, mas sobre a própria narrativa.
Em termos de história e seus personagens, temos um universo próximo de “Lolita”, uma América pastoral dos anos 1950, personagens principais isolados e com muitos tiques, mas com uma diferença, aqui não existe um verdadeiro objeto de interesse para além do personagem em si. Nada o move, e o relato limita-se a dar conta da enfadonha ausência de vida, sendo também aquilo que garante a comicidade do relato, mas até neste, Nabokov se perde por trabalhar as suas gags sempre de modo muito cruzado, minimal ou encerradas em conhecimento literário russo profundo.
Se quisermos atravessar por entre o vazio interior e o destrinçar dos sentires de um professor universitário americano, sem tão grande capacidade estilística é verdade mas com verdadeiro aprofundamento psicológico, podemos recorrer em vez desta à obra esquecida de John Williams, “Stoner” (1965).
“Do ponto onde me encontrava vi-os diminuir na moldura da estrada, entre a casa mourisca e o choupo da Lombardia. Depois, o carrito ultrapassou ousadamente o camião da frente e, livre por fim, disparou pela estrada luzidia, que se podia imaginar estreitando até se transformar num fio de ouro na neblina suave em que monte após monte faziam da distância beleza e onde simplesmente não se pode prever que milagre poderá dar-se.” (p.156)
No campo da narrativa, a estrutura sofre pelo contorcionismo aplicado por Nabokov ao texto, que dedica grandes trechos a um detalhamento espiralado de cada evento, personagem, ou espaço. É a prosa o centro, sendo a narrativa mera obrigatoriedade, pró-forma de relato.
Em termos de história e seus personagens, temos um universo próximo de “Lolita”, uma América pastoral dos anos 1950, personagens principais isolados e com muitos tiques, mas com uma diferença, aqui não existe um verdadeiro objeto de interesse para além do personagem em si. Nada o move, e o relato limita-se a dar conta da enfadonha ausência de vida, sendo também aquilo que garante a comicidade do relato, mas até neste, Nabokov se perde por trabalhar as suas gags sempre de modo muito cruzado, minimal ou encerradas em conhecimento literário russo profundo.
Se quisermos atravessar por entre o vazio interior e o destrinçar dos sentires de um professor universitário americano, sem tão grande capacidade estilística é verdade mas com verdadeiro aprofundamento psicológico, podemos recorrer em vez desta à obra esquecida de John Williams, “Stoner” (1965).
“Do ponto onde me encontrava vi-os diminuir na moldura da estrada, entre a casa mourisca e o choupo da Lombardia. Depois, o carrito ultrapassou ousadamente o camião da frente e, livre por fim, disparou pela estrada luzidia, que se podia imaginar estreitando até se transformar num fio de ouro na neblina suave em que monte após monte faziam da distância beleza e onde simplesmente não se pode prever que milagre poderá dar-se.” (p.156)
No campo da narrativa, a estrutura sofre pelo contorcionismo aplicado por Nabokov ao texto, que dedica grandes trechos a um detalhamento espiralado de cada evento, personagem, ou espaço. É a prosa o centro, sendo a narrativa mera obrigatoriedade, pró-forma de relato.