A review by celestecorrea
Orlando by Virginia Woolf

4.0

(Resenha editada em 18 de Janeiro 2024)

Um livro andrógino.

Uma biografia de Orlando, ora como homem, ora como mulher, ao longo de quatro séculos da história de Inglaterra que abrangem os reinados de Isabel, Jaime, Carlos, Jorge, Vitória e Eduardo.
Uma personagem fictícia que começa por nos ser apresentada como «o mais formoso par de pernas que alguma vez sustentaram um fidalgo.»

Quando Orlando passa do sexo masculino ao feminino, lemos:

«As suas formas combinavam num corpo só a força do homem e a graça da mulher…Orlando tornara-se mulher - é inegável. Mas sob todos os outros aspectos, Orlando continuava a ser exactamente como era. A mudança de sexo, embora modificasse o seu futuro, em nada modificou a sua identidade.»

Livro inspirado em Vita Sackville-West, amiga de Virginia Wolf e herdeira de uma das principais famílias de Inglaterra, evidencia que a dupla natureza de Orlando lhe oferece um número infinito de vidas:

«Porque era esta mistura, na sua pessoa, de homem e mulher, em que ora predominava um, ora outro, que tantas vezes dava à sua conduta um rumo inesperado.»

A biografia começa em 1586, data em que Orlando inicia a escrever o seu poema «O Carvalho», e termina no dia onze de Outubro de 1928, mesma data que Vita escreve a Virginia:

«[...] A mim parece-me que é o livro mais belo, mais engenhoso e mais rico que já li - superando até Rumo ao Farol. [...] o livro (estruturalmente) [...] parece conter em si o melhor de Sir Thomas Browne e de Swift - a riqueza do primeiro e a franqueza do segundo. [...] Além do mais inventaste uma nova forma de narcisismo - confesso, estou apaixonada por Orlando -, uma complicação que eu não previra.
Virginia, minha querida, só tenho de te agradecer por teres derramado sobre mim tantas riquezas.
Fizeste-me chorar com as tuas passagens sobre Knole, minha patifa.»


Ao receber esta carta, Virginia enviou um telegrama a Vita: «A tua biógrafa está infinitamente aliviada e feliz».

Na mesma data, Vita escreve ao marido:

«Meu muito querido, escrevo-te no meio da leitura de Orlando, afectada por um tal distúrbio de excitação e confusão, que mal sei onde estou (ou quem sou)! [...] Deus meu, o que irás tu pensar dele. [...] Confesso que não tenho uma visão linear dele. Tem partes que me fazem chorar, e outras que me fazem rir; no seu todo, deslumbra-me e deixa-me perplexa [...] acordei sentindo-me como se fosse o meu aniversário, ou o dia do casamento, ou algo raro. [...] Sinto-me infinitamente honrada por ter sido o pretexto para ele ser escrito; e muito humilde.»


Adivinha-se vida eterna para Orlando?