A review by micadat
Educação como prática da liberdade by Paulo Freire

5.0

Na minha livraria de bairro talvez devolveram os livros à editora então acabei comprando na amazon.

Entendo que Paulo Freire é um pouco polêmico, a direita no Brasil o escolheu como inimigo. E as vezes me parece que ele entendia a participação política dos desinformados e não educados como essencial à democracia. Que a propria democracia seria escola de democracia. Em certo momento Freire coloca que é natural o pobre agredir o rico que considera a participação do pobre na política um contrassenso, que considera o pobre inferior. A violência irrompe em certa parte do caminho que ele propõe e o Paulo Freire diz que é inerente o conflito à situação real. Negar esse conflito seria não ter visão crítica, noção da realidade.

Eu senti que finalmente via em texto crítico parte da discussão da história do Brasil. O que significava a obra do Paulo Freire no seu contexto, a o golpe de 1930, a presença incipiente do povo na velha republica. Os populistas que não de fato queriam talvez revolução, mas clamavam por mudanças dramáticas talvez mais pelo palavreado, pela propaganda do que pela posição de fato tão democrática. Há uma seção inteira sobre um tema que vi por cima quando estudei para o vestibular: Democratização versus massificação. O quão forte é a manipulação que envolve a massificação, quão forte é a perda de autonomia, identidade.

Descobri que parta da razão que movia toda a polêmica de Paulo Freire é que além de politizar os alfabetizandos, o trabalho que ele fazia era um voto a mais na democracia, pois analfabetos não votavam. Então a ameaça que ele representava era portanto duplo: não só dava direito a voto aos que estavam fora, mas também a esses ele mostrava parte do caminho para entender de fato seu mundo de um modo crítico. Talvez o pensamento crítico de um burro ou de um pouco letrado e ex-analfabeto com 40 dias de aulas por exemplo não seja plenamente o pensamento crítico de alguém que estudou Ciências Sociais numa universidade. Talvez era confortável para muitos de classe média ou alta que se mantivessem excluídos, que não precisasse dialogar, chegar a um entendimento, lidar com o emergir de tanta gente inexperiente. Em outro livro Paulo Freire fala sobre o desafio de ser mais, de ser digno. E digno de considerar o outro como igual justamente, né?