A review by saraastro
Hipólito by Euripides

3.0

Hipólito (Eurípides) 3 estrelas + Hipólito (monólogo de Mickael Oliveira) 5 estrelas

- Lido para o trabalho de História do Teatro e da Literatura Dramática I: analisar e comparar uma obra clássica a uma adaptação contemporânea da mesma história.

Eurípides não é o meu dramaturgo grego favorito, especialmente nesta obra, uma história que tem tanto potencial dramático e trágico, acaba por parecer um quanto sem sal. Fedra acorda um dia a amar o filho de seu marido, Hipólito, (obra da deusa Vênus, por castigo não a Fedra, mas a Hipólito, por este ser casto) e no entanto não vemos grande introspeção da parte dela só como esta paixão impacta e possivelmente impactará a sua vida futura tanto ao ponto de querer pôr um ponto final à sua vida. Tudo o que obtemos de Fedra, são lamentos... superficiais? Ela é assim retratada como uma mulher sem qualquer tipo de ação, que nem chega a contemplar agir face este infortúnio por que isso é claramente tão tão tão difícil para uma mulher. 1º somos vítimas por culpa de outros, 2º choramos, 3º matamos-nos, e ... 4º no fim mentimos e culpamos o nosso filho pela nossa morte?! nonsense.
(MANTENHO A MINHA OPINIÃO QUE AS ÚNICAS PERSONAGENS FEMININAS DE VALOR NO TEATRO GREGO SÃO ESCRITAS POR SÓFOCLES)

Por outro lado o "Hipólito" de Mickael Oliveira é tão poderoso, gut-wrenching, perturbador e impactante.
Hipólito é vitíma de incesto pela sua madrasta, Fedra. O monólogo é o seu retrato com analepses desses anos a ser abusado, como foi crescer assim, e a relação complexa de amor ódio pela madrasta (leia-se mãe).
A Fedra aqui não é alguém que suscite pena na audiência, ela é tanto muito violenta nas suas palavras a Hipólito como se tenta desculpar fazendo-se de vítima, manipuladora é dizer pouco, acho que muitos pais são assim they lash out in anger towards their children and then ask for forgiveness, do they deserve it? Não, amanhã vai ser igual. Mas o Hipólito (caso extremo) ama-a na mesma, ela é melhor mãe do mundo, apenas preferia que eles nunca mais "brincassem na cama". Sempre que Fedra chora, não sentimos pena dela, sentimos repugnância, chorar só faz dela um ser mais miserável em que queremos cuspir em cima, não há empatia possível que perdoe os seus atos.
(Porque raio é que esta peça não está no catálogo do goodreads?... enfim)
https://www.uc.pt/org/centrodramaturgia/5/textos/oliveira_hipolito