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mikesparrow 's review for:
O Ofício
by Sergei Dovlatov, Nuno Quintas, Galina Mitrohovitch, Júlio Henriques
Ao lado de Brodski, outros jovens não-conformistas pareciam ser pessoas de outra profissão. Brodski criou um modelo inédito de comportamento. Não vivia num estado proletário, mas num mosteiro do seu próprio espirito.
Não lutava contra o regime. Simplesmente não dava por ele. E mal sabia da sua existência.
Fiquei perplexo. Decidi vender a alma ao diabo, e qual foi o resultado? Foi oferecer a alma ao diabo.
Haverá algo mais vergonhoso?...
Certa vez, Bitov deu uma bofetada a Andrei Voznesenski.
Bitov foi sujeito a um juízo dos companheiros. Estava muma
situação mesmo má.
Ouçam-me», disse Bitov, «e hão-de compreender! Vou-lhes
contar como isto se passou! Quando o fizer, vao convencer-se de que agi correctamente. E então vão-me desculpar logo. Deixem-me desabafar. Foi assim. Entro no restaurante. Vejo o Andrei Voznesenski parado. E agora digam-me: podia evitar dar-lhe uma bofetada?...»
E aqui reinava, certamente o eterno acompanhante de um literato russo: o álcool. Bebia-se muito, até ao esquecimento total e às alucinações.
Conheço bem os nossos críticos inteligentes e talentosos. Durante onze meses do ano, dedicam-se aos problemas da alternância das consoantes em Rabindranath
Tagore. Depois recebem a tarefa de recensear um autor
contemporâneo. Ainda por cima, não completamente oficial. É então que os nossos críticos arregaçam as mangas.
Mobilizam todo o talento, todo o intelecto, toda a objectividade. Toda a sua exigência insatisfeita. E lançam-se desta altura sobre
a presa, como açores famintos.
Deram-lhes a ordem: podem atacar!
Permitiram-lhes mostrar todo o intelecto, todo o talento, toda a medida de objectividade segura.
Não lutava contra o regime. Simplesmente não dava por ele. E mal sabia da sua existência.
Fiquei perplexo. Decidi vender a alma ao diabo, e qual foi o resultado? Foi oferecer a alma ao diabo.
Haverá algo mais vergonhoso?...
Certa vez, Bitov deu uma bofetada a Andrei Voznesenski.
Bitov foi sujeito a um juízo dos companheiros. Estava muma
situação mesmo má.
Ouçam-me», disse Bitov, «e hão-de compreender! Vou-lhes
contar como isto se passou! Quando o fizer, vao convencer-se de que agi correctamente. E então vão-me desculpar logo. Deixem-me desabafar. Foi assim. Entro no restaurante. Vejo o Andrei Voznesenski parado. E agora digam-me: podia evitar dar-lhe uma bofetada?...»
E aqui reinava, certamente o eterno acompanhante de um literato russo: o álcool. Bebia-se muito, até ao esquecimento total e às alucinações.
Conheço bem os nossos críticos inteligentes e talentosos. Durante onze meses do ano, dedicam-se aos problemas da alternância das consoantes em Rabindranath
Tagore. Depois recebem a tarefa de recensear um autor
contemporâneo. Ainda por cima, não completamente oficial. É então que os nossos críticos arregaçam as mangas.
Mobilizam todo o talento, todo o intelecto, toda a objectividade. Toda a sua exigência insatisfeita. E lançam-se desta altura sobre
a presa, como açores famintos.
Deram-lhes a ordem: podem atacar!
Permitiram-lhes mostrar todo o intelecto, todo o talento, toda a medida de objectividade segura.