bibilly's reviews
327 reviews

Raízes do amanhã: 8 contos afrofuturistas by Sérgio Motta, Pétala Souza, G.G. Diniz, Isa Souza, Petê Rissatti, Lavínia Rocha, Stefano Volp, Waldson Souza, Kelly Nascimento

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1.5

a nota é para o livro como um todo. não consegui levar a sério a maioria dos contos, devido tanto às escritas, caracterizações e diálogos quanto aos enredos/premissas, então pulei três dos oito (excluindo o festival de promessas da introdução). se tivesse que recomendar pelo menos um seria "Tudo o Que Transporta o Ar" de Pétala e Isa Souza: também meio chatinho, mas o que melhor disfarça sua chatice. as irmãs não ignoram as implicações de uma ideia ao mesmo tempo tão batida e complexa como a do multiverso, e sabem a importância de uma boa abertura e uma boa finalização — porque dá para amenizar a morosidade ali do meio, até relevar falta de motivação e explicação, se a história começa e termina com estilo. destaque também para "Recomeço", que me lembrou o final da série The Leftovers; e "Sexta Dimensão", que foi o primeiro que não odiei e o qual reacendeu minha esperança de encontrar um fav br neste começo de ano como ocorreu em 2023. aí o último conto a apagou novamente.
Aos trilhos que me atravessam by João Mendes

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reflective sad slow-paced
  • Plot- or character-driven? N/A
  • Strong character development? N/A
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? No

2.0

este conto é um daqueles títulos que começam bem, num cume luminoso e verdejante, passarinhos cantando, umas 4 estrelas à vista, até que tropeçam e saem rolando morro abaixo. na minha estante de best-beginnings-and-first-lines tem uns dez assim. como havia lido o outro conto do autor, Corpo de Barro, sabia do seu potencial, mas aqui ele se recusa a colher os frutos de uma abertura primorosa.

primeiro, o desperdício de tema e alegoria, quando, do vagão que sugere traumas de infância relacionados com um parágrafo na parte 1 sobre os pais do protagonista, partimos direto para a juventude e vida adulta e caímos em dois diálogos ridículos com a morte, ou melhor, dois monólogos que são claramente uma desculpa para o autor citar Nietzsche. que isso? um filme? e eu esperando um mergulho no inconsciente do personagem. daí em diante a história vira uma sequência de lugares comuns que teriam tido mais chances de sucesso com o meu eu de 13 anos.

a certa altura passei a ter war flashbacks da leitura de This Is How You Lose the Time War. em alguns parágrafos as frases pareciam coladas aleatoriamente; em outros a narração driblava a palavra mais óbvia só pra escolher a segunda da lista. além disso, erros de revisão e descuidos da edição foram se amontoando. dada a semelhança com a escrita do livro supracitado, eu ainda relia a passagem pra ter certeza de que não estava ficando louca. sem contar as crutch words: e "nada" pra cá, e "rastro" pra lá. 30 páginas que não acabavam nunca.

ainda assim, acredito que o conto daria uma boa hq. ou talvez eu tenha visto possibilidades demais naquele primeiro vagão.
Corpo de barro by João Mendes

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3.75

várias interrogações, mas impressionante trabalho com as palavras. uma voz de quem tem dez títulos publicados e mil livros lidos.
Cidades afundam em dias normais by Aline Valek

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fast-paced
  • Plot- or character-driven? A mix
  • Strong character development? It's complicated
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? Yes

3.25

o formato casa muito bem com o tema, e o leitor se sente folheando um álbum de fotografias ou assistindo a um documentário sobre os (ex) habitantes de uma cidadezinha que acabou de desafogar. memórias guiadas, e no meio disso um diário. aqui o estilo se trai ao não variar de um narrador para outro, a terceira pessoa vazando na primeira através da qual fala uma adolescente segura demais da própria voz — sua precisão aponta para fora, não para dentro. além disso, alguns problemas do romance de estreia da autora a perseguem neste. a caracterização asséptica é enfatizada pela fugacidade dos capítulos, visto que não passamos muito tempo com os personagens, os quais formam mais uma colcha de retalhos que uma corrente de eventos. o leitor é colocado de frente para as fotografias, não dentro delas, de forma que não há ninguém para amar ou odiar profundamente. se por um lado o enredo dessa vez se faz mais nítido, por outro caminha rumo à decepção, pois nenhuma relação é tão intensa, nenhuma morte tão trágica quanto o esperado. e o que foi aquele chuvaréu enchendo o lago por anos a fio até finalmente encobrir a cidade? cidade esta grande o bastante para a violência correr solta, mas não o suficiente para sobreviver a tal dilúvio. eu, como leiga, fiquei esperando explicações. dito isso, adoraria ler algo mais distópico assinado pela Aline. para quem gosta de metalinguagem e de apreciar esqueletos.
Dente de Leite by Patrick Martins, Igor Frederico

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dark mysterious reflective sad fast-paced
  • Plot- or character-driven? A mix
  • Strong character development? It's complicated
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? Yes

3.75

meio surpreendente esta hq ter sido escrita por dois homens — ainda que faça falta o nome de uma mulher dentre os textos de apoio dado o tema e o desenvolvimento obscuro que ele recebe aqui. eu teria que reler para começar a ter alguma certeza sobre o que li. dito isso, como é bom se surpreender com uma obra brasileira contemporânea. até segui os autores no kindle unlimited, mas não encontrei mais nada publicado por eles.
As Águas-Vivas Não Sabem de Si by Aline Valek

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adventurous mysterious medium-paced
  • Plot- or character-driven? N/A
  • Strong character development? No
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? Yes

2.5

quando você termina um livro sem entender por quê alguém se daria ao trabalho de escrevê-lo. meu primeiro contato com a autora foi em sua newsletter Bobagens Imperdíveis (a qual deixei de acompanhar por falta de tempo, mas era ótima), e digo com segurança que o peixe que ela tenta vender aqui sairia mais rápido em forma de ensaio, conto ou novela. assim o final não pareceria tão preguiçoso, embora acredite que nem mesmo assim ele satisfaria inteiramente alguém. pensei em dar 3 estrelas pelo capítulo da baleia cachalote,
mas esse e outros trechos de destaque são barquinhos perdidos em alto mar. pois isto não é uma antologia e o que conta é o todo — aquilo que o ilumina num capítulo o desgasta em muitos outros. personificar animais só encanta até certo ponto; e do que adianta tanta prosopopeia quando todos os humanos carecem de personalidade? o narrador tenta provar sem nunca mostrar que a protagonista não é uma tola irresponsável, e sim uma pobre coitada solitária e incompreendida, numa caracterização tão estéril quanto a estação submersa que habita. a história fica presa a esse ambiente e deixa de desenvolver as vidas e motivações dos personagens sem entregar nenhuma trama eletrizante em troca. as pequenas doses de suspense apontam para uma revelação ou clímax que nunca chega, desperdiçando uma ideia e um cenário pouco comuns na ficção. dessa forma, fica difícil não achar a escrita mecânica e robótica. não crua, mas distante. sabe aquele livro cabeça no qual nenhum diálogo soa natural, só que não de propósito? e os personagens parecem não pessoas, mas fantoches? é o debut da Aline Valek. em tentivas de floreio, a narração adquire o tom de um velhinho sentado ao pé da lareira numa noite de natal aumentando as próprias histórias para entreter os netos; ou de um adulto modulando bastante a voz ao ler para uma criança a fim de não entediá-la, recriando pausadamente as passagens mais complicadas (sim, já fiz isso). tenho certeza que para muitos tal recurso pode soar poético ou filosófico, mas a mim dificilmente convence, no máximo me faz destacar algumas linhas que não constroem nenhuma morada na minha memória. o enredo tedioso não ajuda, apesar de eu ter ido umas duas vezes no youtube pesquisar sobre mergulho saturado e câmeras hiperbáricas. enfim, para um livro que se apoia tanto no conceito de "abismo", é tudo muito raso. porém, o segundo romance da Aline também tem um título legal, então estou indo ler.

ps: pra quem se interessou pelo conceito do lado scifi da história, recomendo a trilogia Broken Earth, que também não tem o melhor final do mundo, mas cujo desenvolvimento é bem melhor.
É assim que se perde a guerra do tempo by Max Gladstone, Amal El-Mohtar

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challenging slow-paced
  • Plot- or character-driven? N/A
  • Strong character development? N/A
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? It's complicated
  • Flaws of characters a main focus? No

1.75

a prova de que uma boa prosa não torna uma história bem escrita.

toda vez que a comunidade leitora populariza uma obra como "poética" eu me preparo para algo pomposo, melodramático e insubstancial. mesmo assim, iniciei a leitura pronta para ceder umas 4 estrelinhas e usar a expressão "desafiando provérbios" toda vez que tomasse uma decisão questionável. agora eu olho para os sete dias que levei para terminar menos de duzentas páginas e eles parecem semanas. se por um lado a prosa deste livrinho é, até certo ponto, realmente notável, por outro, algumas escolhas — de formato (parte epistolar), gênero (scifi de viagem no tempo) e abordagem (zero fucks) — diminuíram seu impacto para mim.

tudo se resume ao fato de as protagonistas parecem mais bruxas anciãs conservadas em formol que viram o mundo acabar vezes demais para se importar genuinamente com ele do que espiãs rivais travando uma guerra através do espaço-tempo. penso que se esta fosse uma história de fantasia ou uma ficção histórica, e não uma ficção científica, haveria mais liberdade para a imprecisão deliberada dos autores, pois haveria menos necessidade de respostas ou a maioria estaria subentendida. aqui as exposições parecem por vezes apenas palavras coladas aleatoriamente, e no final a construção de mundo vai de confusa para risível. eu sou a primeira a reclamar de didatismo na ficção contemporânea, mas quando enquadramos um livro no scifi automaticamente esperamos explicações "científicas", ou no mínimo que a matéria não seja manipulada como mágica a bel prazer para dar vazão ao romance. 

o que nos leva ao formato. amo abrir um livro e me deparar com cartas ou e-mails, principalmente em um romance, até quando não estou particularmente apaixonada por ele. dessa vez não foi diferente. entretanto, esse recurso só funciona de verdade se o casal já tiver se encontrado e ansiar por fazê-lo novamente, ou se a narrativa tecer um futuro além da correspondência, a surpresa da descoberta. nada disso acontece aqui, e pelo visto não sou romântica o suficiente pra me contentar com cartas. sem contar que os autores perderam a oportunidade de escrever uma friends-to-enemies-to-reluctant-allies-to-lovers. imagine isso numa fantasia ou livro de época, sem nenhuma tecnologia vaga ou obscura no caminho... agora quero um livro sobre bruxas espiãs de lados inimigos. higher stakes. 

claro que tudo isso pode ser pontos positivos para outro leitor. vai mesmo da preferência de cada um.

uma acusação mais difícil de negar: as vozes das personagens se distinguem apenas pela intercalação entre elas e pelo uso do nome de cada uma somado a alusões a seus povos (com os quais elas têm uma conexão mais fraca que o meu wifi). se houvesse sucessão de capítulos sob o mesmo ponto de vista, a história seria ainda mais confusa, visto que o protagonismo duplo e o contrate de origens não influenciam no tom da narração nem invocam individualidade — algo que a gente espera em livros escritos por uma única pessoa, não por duas. os narradores, tanto em primeira quanto em terceira pessoa, são tão autoindugentes que acabam compartilhando a mesma personalidade, se é que existe uma.

além disso, como a história gira em torno de uma relação que abarca um grande espaço de tempo e as missões de ambos os lados não compõem nenhuma trama externa ou interligada, apenas um pano de fundo nebuloso, os capítulos lembram contos e não há uma progressão de eventos, tampouco psicológica. nunca vi uma guerra tão tediosa. as personagens parecem fantasmas de um enredo que poderia ter sido, mas não foi. 

em suma, este livro é como ler um poema sobre um casal que você nunca conheceu — até bonito na superfície, mas a estética não impressiona o bastante para compensar a falta de vida entre as páginas.

por fim, escrevo esta resenha hoje graças à edição brasileira. encontrei pouquíssimos equívocos (a maioria uma questão de gosto), e acredito que seja mais satisfatória — não só mais acessível — a leitura da tradução. se dependesse do original, eu não teria saído do primeiro capítulo, mas nesta versão até o título soa melhor.

ps: terminei sem acreditar que, na trança do tempo, o futuro fica "fio abaixo" e o passado, "fio acima", e não o contrário.
Eu Que Nunca Conheci os Homens by Jacqueline Harpman

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dark emotional reflective sad medium-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? It's complicated
  • Flaws of characters a main focus? Yes

3.75

"como um monumento de orgulho erigido com ódio frente ao silêncio."

meio assustador o quanto me identifiquei com a narradora, considerando que não cresci numa jaula. começamos bem.

(não leia as citações abaixo se não quiser >nenhum< spoiler)


"Li e reli o livro. Fui adquirindo com ele um conhecimento completamente inútil, mas que me dava prazer. Eu sentia como se minha mente estivesse adornada, e isso me fez pensar nas joias, aqueles objetos com os quais as mulheres realçavam sua beleza, no tempo em que a beleza servia para alguma coisa."

"Só eu posso dizer que o tempo existe, mas ele passou por mim sem que eu o sentisse. (...) Se alguém falasse comigo, haveria tempo, o início e o fim do que me fosse dito, o momento em que eu respondo, as palavras seguintes. A menor das conversas dá origem ao tempo. Talvez eu tenha tentado criá-lo ao escrever estas páginas: eu as começo, as encho de palavras, as coloco umas sobre as outras e continuo não existindo, já que ninguém as lê. Deixo elas para algum leitor desconhecido que provavelmente nunca chegará (...). Mas se esse leitor vier, ele vai lê-las, e eu terei um tempo na cabeça dele. Ele terá meus pensamentos nele: ele e eu, assim misturados, constituiremos algo vivo, que não será eu, já que estarei morta, e que não será mais ele tal como era antes da leitura, já que minha história, somada à sua mente, passará a fazer parte do seu pensamento. Eu só estarei realmente morta se ninguém vier, se passarem tantos séculos, e depois tantos milênios, e este planeta (...) não existir mais. Enquanto as folhas cobertas pela minha escrita permanecerem em cima desta mesa, eu poderei me tornar uma realidade em alguma mente. Então tudo desaparecerá, os sóis se apagarão e eu desaparecerei, como o universo. Porque muito provavelmente ninguém virá. Vou deixar a porta aberta e meu relato em cima da mesa, onde ele será aos poucos coberto pela poeira. Um dia, os cataclismos naturais que destroem os planetas varrerão a planície, o abrigo desabará sobre a pequena pilha de folhas bem organizadas, e elas se dispersarão entre os escombros, jamais lidas."

"Théa tentara me explicar o que significavam Deus e a alma para os cristãos. Parece que as pessoas acreditavam fortemente nisso, há menções até no prefácio de um dos livros de astronáutica. Sentei algumas vezes sob o céu, quando ele estava bem limpo, e fiquei observando as estrelas, enquanto eu dizia, com essa minha voz que ficou tão rouca: “Senhor, se você estiver em algum lugar aí em cima e não tiver muito o que fazer, venha conversar um pouco comigo, eu estou muito sozinha e isso me faria feliz”. Nada aconteceu. Então só me resta pensar que a humanidade, da qual me pergunto se realmente faço parte, tinha de fato muita imaginação"
Wilder Girls by Rory Power

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Did not finish book. Stopped at 45%.
im bored. and when it comes to ya fiction, that's quite the problem, because what else can it offer besides entertainment? here, very little. everything about this book is clickbait, from the cover to the synopsis and marketing selling it as a feminist slash sapphic body horror version of Lord of the Flies. while 99% of the cast are indeed women, mostly teenagers, i would argue this fact by itself doesn't make a book feminist; and there's no similarity between this and William Golding's debut besides both taking place on an island. also, despite not having finished the book, i dare say Rory Power's girls are too civilized, given the title, the premise and the fact they've been starving, sick and deformed for two winters (this book doesn't start at the beginning of the isolation as that classic does). they respect the rules in most circumstances, even though there are only two adults left; that's insane.

as for the w/w relationship, it comes out of nowhere: there's no build-up, no tension, no yearning, no nothing. the mc quickly comes to conclusions that are never shown on page. their feelings and personalities are so underdeveloped i was led to believe that the protagonist's love interest actually liked the other girl in their trio who goes missing and that her spiteful behavior towards the mc was out of  jealousy, not due to repressed feelings LoL i guess that would be too much real drama for such a boring book. regardless, instead of the it's-always-been-you trope, the romance would make much more sense if it were a love triangle or an enemies-to-lovers with a slow burn to justify it.

although i tried very hard to give a shit about the characters, i failed. or this book failed me, its "wilder" girls making me yawn, its body horror aesthetic less effective than it could've been on screen. the author forgot at some point that the reader needs to know these girls and see their supposed strong bond in order to care about what happens to them. the story could end with all of them dead, for all i care. i kept reading up until now for the mystery surrounding the whole situation, and i guess i could finish just to hate on it as i've done in the past, but so many reviews warn about an open ending —which, in a book this superficial, screams lazy writing— and i don't want to start 2024 with a one-star read that could've been at least two. perhaps i'll be missing out on an interesting discussion on girlhood, but i doubt it.