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brunomonteiro's reviews
107 reviews
Stoner by John Williams
5.0
Li este livro há uns meses e decidi, na altura, aguardar pela disponibilidade mental para escrever aqui no Goodreads a resenha especial que este livro merece. Acontece que, entretanto, reli algumas “linhas” que se escreveram sobre esta obra de John Williams e percebi que não tenho nada a acrescentar — o livro merece todos os elogios que recebeu. Talvez isso seja o mais supreendente de constatar: todo o culto em volta deste livro é legitimo.
É espantoso como este livro, escrito em 1965, passou tantos anos despercebido. Resumidamente, o livro narra, com uma incrivel astúcia narrativa, a vida de William Stoner um professor universitário de Inglês e os seus fracassos pessoais e profissionais — uma vida relativamente desprovida de uma dimensão extraordinária e, talvez por isso, tão tangível e verosímil. Embora Williams, também ele professor universitária, tenha sempre garantido que se tratava de um trabalho de ficção é dificil excluir alguma inspiração autobiográfica.
Sem dúvida um dos melhores livros que li nos últimos anos.
É espantoso como este livro, escrito em 1965, passou tantos anos despercebido. Resumidamente, o livro narra, com uma incrivel astúcia narrativa, a vida de William Stoner um professor universitário de Inglês e os seus fracassos pessoais e profissionais — uma vida relativamente desprovida de uma dimensão extraordinária e, talvez por isso, tão tangível e verosímil. Embora Williams, também ele professor universitária, tenha sempre garantido que se tratava de um trabalho de ficção é dificil excluir alguma inspiração autobiográfica.
Sem dúvida um dos melhores livros que li nos últimos anos.
Kudos by Rachel Cusk
5.0
No derradeiro livro da sua triologia, fortemente inspirado pela sua participação num Festival literário realizado em Portugal, Rachel Cusk continua no seu estilo muito próprio — embora talvez, num tom mais dramático e “sombrio” — a apresentar ao leitor uma narradora (a escritora Faye) que ouve mais do que fala. São as personagens com que se cruza que vão deambulando, em conversas de uma profundidade inusitada e confessional, por temas que atravessam toda a triologia: as relações falhadas, a maternidade e a relação com os filhos, identidade e a condição social das mulheres, entre outros grandes temas. Na minha opinião, Cusk é uma das mais talentosas escritoras da sua geração pelo que vale muito a pena ler não só "Kudos", mas também "Contraluz" e "Trânsito".
“A verdade é que que me tinha perguntado muitas vezes o que haveria fora do mundo restrito do meu casamento, e que liberdades e prazeres me poderiam aguardar ali: estava convencida de que me comportara de uma forma honesta com a minha família e a minha comunidade, e que era chegado o momento em que poderia, por assim dizer, demitir-me sem irritar nem magoar ninguém e afastar-me a coberto da escuridão. E uma parte de mim acreditava que merecia essa recompensa por tantos anos de autocontrolo e de sacrifício…” - pp. 91
“A verdade é que que me tinha perguntado muitas vezes o que haveria fora do mundo restrito do meu casamento, e que liberdades e prazeres me poderiam aguardar ali: estava convencida de que me comportara de uma forma honesta com a minha família e a minha comunidade, e que era chegado o momento em que poderia, por assim dizer, demitir-me sem irritar nem magoar ninguém e afastar-me a coberto da escuridão. E uma parte de mim acreditava que merecia essa recompensa por tantos anos de autocontrolo e de sacrifício…” - pp. 91
Vale a Pena? Conversas com escritores by Inês Fonseca Santos
4.0
A jornalista e escritora Inês Fonseca Santos publica, na colecção “Retratos da Fundação” da Fundação Francisco Manuel dos Santos, um pequeno grande livro sobre a literatura e a profissão de escritor em Portugal numa época de acentuado declínio do intelectual perante uma cultura multimédia onde predomina, em quase todas as esferas da nossa vida, a velocidade. Esta e outras questões servem de pretexto para uma série de conversas com 11 escritores (Mário de Carvalho, Luis Quintais, o falecido Manuel António Pina, Patrícia Portela, Álvaro de Magalhães, entre outros) que norteiam e enquadram todo o livro: a independência criativa e as agruguras da pressão do mercado; as dificuldades de viver apenas da escrita num país pequeno, onde toda a “máquina” editorial secundariza a renumeração do autor; como é o percurso formativo os escritores… poderá haver uma espécie de escola das “Belas-Letras”? Estas são apenas algumas das problemáticas abordadas num livro que se lê num ápice e só peca por saber a pouco.
As Pequenas Virtudes by Maurício Santana Dias, Natalia Ginzburg
5.0
Onze textos virtuosos onde Natalia Ginzburg mostra a sua extraordinária capacidade em fazer dos temas da vida quotidiana e familiar um interessante objecto literário. Gostei de todos os ensaios, mas a minha predileção vai para os dois últimos textos reunidos neste volume — “Relações Humanas” e “Pequenas Virtudes” —, maravilhosamente bem escritos e reveladores de uma sensibilidade rara. Não será exagero dizer que figura na lista das minhas melhores leituras deste ano.
“Há uma certa uniformidade monótona nos destinos dos homens. As nossas existências desenvolvem-se segundo leis antigas e imutáveis, segundo um seu ritmo uniforme e antigo. Os sonhos nunca se tornam verdade, e no momento em que os vemos despedaçados compreendemos de súbito que as maiores alegria da nossa vida estão fora da realidade. A nossa sorte corre nesta alternância de esperanças e de nostalgias.” ― p. 28
“A nossa felicidade ou infelicidade pessoal, a nossa condição terrestre, tem uma grande importância no que se refere àquilo que escrevemos. Já disse que quem escreve é nesse momento impelido a ignorar as circunstâncias presentes da sua própria vida. Assim é, com certeza. Mas o ser-se feliz ou infeliz leva a que se escreva de uma maneira ou de outra. Quando somos felizes, a nossa fantasia tem mais força; quando somos infelizes, então é a nossa memória que age mais vivamente.” ― p. 94
“Há uma certa uniformidade monótona nos destinos dos homens. As nossas existências desenvolvem-se segundo leis antigas e imutáveis, segundo um seu ritmo uniforme e antigo. Os sonhos nunca se tornam verdade, e no momento em que os vemos despedaçados compreendemos de súbito que as maiores alegria da nossa vida estão fora da realidade. A nossa sorte corre nesta alternância de esperanças e de nostalgias.” ― p. 28
“A nossa felicidade ou infelicidade pessoal, a nossa condição terrestre, tem uma grande importância no que se refere àquilo que escrevemos. Já disse que quem escreve é nesse momento impelido a ignorar as circunstâncias presentes da sua própria vida. Assim é, com certeza. Mas o ser-se feliz ou infeliz leva a que se escreva de uma maneira ou de outra. Quando somos felizes, a nossa fantasia tem mais força; quando somos infelizes, então é a nossa memória que age mais vivamente.” ― p. 94