lattederafaela's Reviews (365)


Quando se trata de Murakami, acabar um livro com uma sensação de profunda confusão é completamente normal.

Este aqui, contudo, leva isso a outro nível. O final foi tão abrupto que eu virei e revirei as últimas páginas à procura do resto da história, porque ela ficou inacabada.

Não há explicaçōes, não há follow up dos eventos, não há um fecho. Fica tudo em aberto.

Não obstante, é Murakami. O que significa que me manteve bastante agarrada enquanto o lia e a premissa de história é fascinante.

"Eu sou o produto de todas as dores que alguma vez me foram impostas."

Este livro dá-me mixed feelings. Por um lado, consegui espelhar-me nesta protagonista e compreender os seus sentimentos e a sua forma de pensar; por outro, não pude deixar de sentir que esta abordagem não era a melhor para contar a história dela. Nem considero que este livro seja adequado a adolescentes ou jovens particularmente sensíveis. Na verdade, mesmo para adultos ele é pesado demais.

Há duas formas de olhar para ele, e elas são tão opostas que é realmente difícil decidir qual delas é dominante.

1) É um retrato cru, frio, duro de uma adolescência extremamente depressiva e com pensamentos su1c1das profundamente perturbadores. E nesse sentido, é uma forma prática de entrar na cabeça do que uma menina de 14 anos, que vivencia o bullying e não consegue escapar da dor dentro dela, e entender e sentir o que ela sente, o seu desespero, o seu desgosto com a vida.

2) É um retrato insensível, demasiado gráfico, com detalhes que podem colocar leitores sensíveis em perigo, com pouco ou nenhum cuidado em ser respeitoso para com o problema que procura debater. Chegaria a considerá-lo um manual de como cometer su1c1d1o camuflado sob a premissa de uma história realista.

Creio que é um pouco dos dois e, ao mesmo tempo, sinto que só pode ser um. Por isso dei-lhe três estrelas: pelo benefício da dúvida, e pelo perigo que representa para as pessoas que procura representar.

Eu gostei muito do livro - sim, começo logo por aqui.

Aviso: esta review pode ter spoilers.

Ele não é perfeito (já falarei sobre isso), mas realmente gostei. Tem uma história leve, mas cheia de intrigas, uma protagonista com quem me consegui "relate" (relacionar? identificar?), um antagonista que nos faz roer as unhas e uma escrita fluída e interessante.

As únicas coisas de que não gostei:

- Os tempos verbais precisam de uma revisão. O parágrafo começa no passado e acaba no presente, às vezes vice versa. Às vezes os tempos verbais mudam a meio da frase. E o livro não foi revisto pela própria autora (se fosse, eu até perdoava). Essa troca constante de tempo torna-se bastante distrativa e quebra o fluxo da leitura. Eu entendo que a história se passa em dois tempos distintos e vai avançando gradualmente (e eu adorei isso, mas já falo mais à frente), mas não é a isso que me refiro. Refiro-me mesmo aos verbos e à estrutura das frases. O livro parece-me ter sido autopublicado, por isso dou vários descontos que não daria se tivesse sido numa editora.

- O Simão. Meu deus, que pessoa execrável. E aqui eu admito: é um gosto pessoal. Não é um "erro" da autora. Porque o pior sentimento que um autor pode causar num leitor é indiferença pelo personagem. Se os amamos ou de odiamos, é porque o escritor fez um trabalho muito bom. Neste caso, eu realmente odeio o Simão. Confesso que me apaixonei por ele nos flashbacks do passado, totalmente o meu tipo, e estava a shippá-los com toda a força. Mas no presente? Meu deus, eu queria dar-lhe com uma cadeira na cara. Mas a certo ponto até nas cenas do passado eu comecei a ver red flags. Aquela coisa do "tenho a certeza que te contei"? Puro gaslight para a Teresa se sentir doida. Depois de cair a máscara de menino simpático e engraçado, ele revela-se manipulador em várias cenas. Aproveita-se das inseguranças da Teresa, é um cretino, aproveita-se dela, está constantemente a dar-lhe facadas. Meu deus, como eu lhe queria bater!

- Ser tão curtinho. Quase me enrolei em posição fetal quando acabou, porque estava a gostar. Sinto que esta história poderia ter sido contada em mais páginas, mais momentos, talvez mais cenas com as amigas dela em vez de girar tanto em redor dela e do Simão, porque a Teresa parece mais complexa do que apenas a sua vida amorosa. Eu gostaria de saber mais sobre ela e sobre a sua vida, sobre as suas amizades, sobre o que faz da vida, sobre o que anda a fazer quando não está a ser exposta pelo ex-namorado.

- O final. Tendo em conta todo o meu rant ali em cima sobre o Simão, isto não deve ser um choque.


Coisas de que eu gostei:

- A narrativa não linear: eu adoro uma boa narrativa fora do habitual e esta aqui não foi exceção. Adorei a forma como o livro se divide entre o passado e o presente, mas o passado vai avançando gradualmente. E a melhor parte é que uma pessoa não se perde, o que é muito fácil neste tipo de narrativas.

- Murakami!!!!!!!

- Aquele pormenor de o Simão ainda se lembrar que a bebida favorita da Teresa era chá. Fiquei tocada, achei fofo, mesmo que já detestaste o Simão nesse ponto.

- As patadas da Margarida. Meu deus, como eu gostava que tivesse havido mais, porque são muito boas!

- Tirando a questão dos verbos, tudo o resto, em termos de escrita, é impecável. Pontuação em geral no sítio, os diálogos são verossímeis, os capítulos têm um comprimento confortável, a diagramação é ótima. Ah, parece haver uma pequena confusão entre o velho e o antigo acordo ortográficos, mas até eu me estou sempre a baralhar nisso.

- A capa! É linda de morrer!

- A história em geral. A sério, gostei mesmo muito e fico feliz de ter investido diretamente com a autora, porque agora tenho um livro bom & autografado.


Estou mesmo feliz. Tenho lido bastante literatura portuguesa ultimamente - é um dos meus projetos do ano -, mas ainda tenha lido bastantes coisas boas, este livro superou um pouco aquilo que eu esperava. Preciso de mais livros desta autora!

Este livro começa com uma ótima premissa e com sinais de uma construção de mundo extraordinária — construção essa que se mantém bastante latente ao longo de todo o livro. Apesar de ser curtinho — menos de 80 páginas —, é notável o esforço que o autor fez para que o seu universo fosse à prova de bala, interessante e bem fundamentado.

A raiz da própria história também: uma princesa que sofre tanto pela morte do seu pai que, num revirar de eventos, dá por si numa tumba cheia de reis mortos, que lhe oferecem poderes especiais e a encarregam de uma missão importante.

A partir daí, a história teria tudo para ser excelente, se não houvesse algumas falhas na construção dos personagens e no próprio desenvolvimento. É sem dúvida um livro carregado de ação, surpreendendo-nos sempre com reviravoltas, surpresas, lutas de espadas e magia. Mas senti falta de um pouco mais de introspeção. Os monólogos certamente passam os pensamentos da protagonista, mas eu gostaria de ter entrado na mente dela mesmo sem que ela falasse sobre o que pensava.

Não consegui simpatizar com a jovem Liriam. Nem sei se é suposto. Ela é uma jovem mulher muito forte, determinada, focada na sua missão. Extremamente dedicada ao seu pai e à grande responsabilidade que carrega nos ombros. Mas é impulsiva e imatura — certamente propositadamente e devido à sua vida resguardada da corte. Eu não me consegui relacionar com ela, mas é definitivamente uma personagem feminina forte.

Senti um pouco falta de uma exploração mais densa da história. Acredito que a história poderia ter tido mais pausas entre os momentos de ação e que os diálogos poderiam ser mais naturais. Mas é sem dúvida um universo interessante e que deixa com vontade de descobrir um pouco mais sobre os deuses, os reis mortos e a cidade tumba.