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Memento Mori

Muriel Spark

3.54 AVERAGE


Se não nos lembrarmos da Morte, a Morte faz-se lembrar.

Memento Mori, de Muriel Spark é um longo desfiar dos receios, anseios e percepções sentidas na terceira idade quando se enfrenta finalmente a realidade que traz consigo o lema estoico de Memento Mori ou lembra-te da morte.

Ter-se mais de setenta anos é como estar em guerra. Todas as pessoas nossas amigas estão à beira de partir ou já partiram, e nós vamos sobrevivendo entre mortos e moribundos, como num campo de batalha.

Partindo de uma série de telefonemas misteriosos em que uma voz anónima anuncia apenas lembra-te de que vais morrer, Spark tece uma longa teia de relações entre inúmeras personagens alimentada por invejas, soberba, maldade ou mesquinhez à qual é dado acesso privilegiado ao leitor. Através de uma narrativa rápida e intermitente que acompanha o fluxo de pensamento ora de uma ora de outra personagem, Memento Mori está repleto de intrigas, suspeitas, tentativas de subornos e heranças manipuladas - o que não seria nada de novo, não se desse o caso de o elenco ser muito pouco jovem (todo ele acima dos 70 anos) e, agora, parecer ser vítima conjunta de um engraçadinho que os ameaça de morte.

Em Memento Mori há de tudo: uma escritora senil (ou não), uma funcionária que chantageia os seus patrões, um estudioso da psicologia da terceira idade, uma filantropa pouco caridosa, uma bigama insuspeita, etcetera, etcetera... Todos, sem exceção, criaturas vividas, aguerridas e recipientes, via telefone, do velho adágio lembra-te de que vais morrer. A forma como se posicionam perante esta evidência é o que alimenta a narrativa - há os que a negam à partida; os que se revoltam; os que a ignoram e, mais raros, aqueles que a aceitam como parte intrínseca da vida:

Charmian deixou-se ficar à escuta um pouco mais, tentando confirmar a impressão de estar só naquela casa. Não ouvia um som. Levantou-se lentamente, arranjou-se sozinha e, apoiando-se, agarrada à balaustrada do patamar e depois ao corrimão, desceu as escadas. Estava no primeiro patamar intermédio quando o telefone tocou. Não se apressou, mas alcançou-o enquanto ainda tocava.
- É Mrs Colston quem fala?
- Sim, sou a própria.
- Charmian Piper, não é verdade?
- Sim. Você é jornalista?
-Lembre-se - disse a voz - que vai morrer. - Oh, quanto a isso - disse ela, - há mais de trinta anos que de vez em quando tenho pensado no assunto. A minha memória trai-me a respeito de algumas coisas. Tenho oitenta e seis anos feitos. Mas, seja como for, não me esqueço da minha morte, venha ela quando vier.
- Fico encantado ao ouvi-la falar assim - disse o homem. - Até outro dia.


Quem é o autor das chamadas e onde elas levarão as personagens fica para descobrir ao longo da leitura, mas o cerne da criação de Muriel Spark parece residir na análise do declínio mental e físico associado à velhice, e nos preconceitos de quem, apesar de, inexoravelmente, se encaminhar para lá, lhe nega o devido direito:

A vida tornava-se tão primitiva, pensou Guy, à medida que a idade avançava: apesar de todas as comodidades habituais, uma pessoa ficava mais vulnerável à acção da natureza do que qualquer jovem explorador polar. E as leis físicas impunham-se tão simplesmente, frustrando todos os propósitos pessoais de cada um.

À semelhança das personagens de Memento Mori, os leitores aceitam, recusam ou rebelam-se perante a ideia de declínio do seu corpo, das suas faculdades, das suas relações... Mas, sobretudo, recordam ou não que esse declínio é apenas uma outra etapa antes de tudo terminar (ou evoluir, como preferirem). E depois, o que fica?

Se pudesse recomeçar agora a minha vida, tentaria habituar-me a todas as noites reflectir um momento sobre a morte. Digamos que adoptaria a prática de me lembrar da morte. Não há outro exercício que possa tornar a vida mais intensa. A morte, quando se aproxima, não deveria apanhar-nos de surpresa. Deveria antes estar presente em todas as nossas expectativas em relação à vida. Sem uma presença continuada do sentimento da morte, a vida é insípida. Como se vivêssemos alimentados a claras de ovo.

Refletir, como os estóicos, sobre a morte, pode competir para apimentar a vida, para a valorizar, para destacar o espírito perante o corpo, para um tomar de consciência mais efetivo acerca do presente, para, quem sabe, um rebate de consciência...

Pelo meu lado - disse Miss Taylor -, gostava muito que me deixassem morrer em paz. Mas os médicos haviam de ficar horrorizados se me ouvissem dizer uma coisa assim. Sentem-se tão orgulhosos dos seus novos medicamentos e métodos de tratamento: descobrem-se a todo o momento novas coisas... Às vezes chego a recear, se as descobertas continuarem a este ritmo, não chegar a poder morrer.

...ou não! Podemos simplesmente continuar a labutar nos nossos desejos e aspirações mais ou menos mundanos já que não sabemos o que se segue a esta vida.
Tudo é possível e Muriel Spark também não nos devolve uma melhor resposta. Certo é que, Memento Mori é um livrinho sinistro, com um humor negro do mais macabro que há, onde os velhos, os desvalidos e os doentes desfilam para nos recordar de aproveitar o dia de hoje, seja a reviver o passado, a planear o futuro ou simplesmente a saborear um bom chá.

Um grito sobe do vazio do ser:
Lembra-te, oh, lembra-te que vais morrer.
(...)
Lento, o suspiro que me vem dizer
num eco: lembra-te que vais morrer.
(...)
De longe vem a Voz que faz tremer:
Ó mortal, lembra-te que vais morrer!

Some really mean and cruel and just opportunistic characters. I’m not sure I liked a single one of them. Written so well that you believed in them though. I’d say it was biting rather than playful and mischievous. Muriel Spark is a pretty harsh critic or she knew some fairly awful people!
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: No
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Complicated

A group of old people start getting anonymous phone calls: each one says, "Remember you will die." They attend one another's funerals. Old people in and out of geriatric wards write and rewrite their wills. A housekeeper companion, disappointed not to receive an inheritance from the woman she had been caring for, infiltrates another old household and tries to convince the elderly woman (a famous novelist) that she is losing her marbles; she blackmails her husband. Old people remember love affairs from long ago and the ramifications haunt some of them. Memoirs are written. One old man has a penchant for staring at suspenders and stockings in situ.

As John Mullan said in his 2021 Gresham College lecture, "n Muriel Spark novels, murders are common while blackmail is more or less a narrative principle." In this novel, Spark considers the issue of ageing with her trademark humour. It's a fun book but it is dated and not just by the 'geriatric ward'. Almost all of the characters are posh (not just a famous writer but also a Dame) and wealthy, employing maids and manservants, and it says something for the author's prejudices that the main villain is one of the few lower class characters.

Not only entertaining but full of acute observations regarding old age and the approach to death.

So basically we all die, and don't forget it. And this is some prankster calling "boomers" or whatever the 1950s equivalent was and saying like hey one day you'll be dead ya gilded age materialist. I think I'll stick to Rose Gallagher for my Gilded Age fiction.
Aging geriatrics in post WW2 England debating the merits of staying home or going to a nursery home. Or did they imagine the calls and need to be put in a different type of home? Is this an inspiration for the Black Phone movie?
funny mysterious medium-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: No
Loveable characters: No
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes
Plot or Character Driven: Character
Flaws of characters a main focus: Yes

The Prime of Miss Jean Brodie is a classic for good reason, but do not sleep on Memento Mori. I found this book surprisingly (delightfully) strange, and unsurprisingly hilarious. I can’t think of another writer who does better dialogue.
dark funny lighthearted mysterious medium-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: No

A darkly comic novel with some serious themes underlying it

This book is filled predominately with characters who are advanced in years. Most have known each other for years, and they are beginning to pay attention to the aging process in themselves and others. One of the characters is getting anonymous phone calls telling her to "Remember you must die" (memento mori). Soon they are all getting the message, and they respond to it differently.

I went into this book without any knowledge of the story. I liked the story, but wasn't overly affected by it. I did find the characters somewhat silly.