4.02 AVERAGE


Don't think I retained a word of this but it was interesting 

No puedo parar de pensar en el imperio romano

fionntb's review against another edition

DID NOT FINISH: 26%

Just wasn't in the mood for something so factual.
informative medium-paced
informative medium-paced
informative slow-paced

I’m very much in my Roman History era as I approach 32. This is good! It covers about 1000 years from Rome’s humble (mythological) beginnings all the way to the tumultuous 3rd century CE, focusing on Rome as a whole rather than just the most important figures. It’s still pop history but it feels substantive and I know more after reading so mission accomplished.
adventurous challenging informative reflective slow-paced
informative slow-paced

Lembro-me de Mary Beard abrir um dos seus episódios de <i>Meet the Romans</i> apontando para uma placa funerária em que se lia a palavra "Lusitânia" e que a sua tradução foi, muito simplesmente, "Espanha". Ora, nem por um minuto acredito que o "engano" de Mary Beard tenha sido inocente. Mas isso é debate para outra altura. A questão aqui é que os pontos de vista enviesados estão não só associados à geopolítica atual, mas também à interpretação daquilo que foi a geopolítica da antiguidade - no caso, a geopolítica do Império Romano. 
A nossa leitura do poderio imperial romano, com uma história gloriosa ou vil - conforme os nossos princípios - , mas sempre a preto e branco, nasce de uma narrativa grandiloquente, oficial, e sancionada pelo próprio estado de Roma, com origem mítico-religiosa e grega (simbolizando perfeitamente a linearidade histórica, ou <i>translatio imperii</i>, operada pelos romanos). Concretamente, está leitura nasce com a propaganda dos mitos fundadores de Rómulo e Remo - os gémeos salvos e alimentados pela loba Capitolina (ecoando a sobrevivência milagrosa de Zeus amamentado pela loba Amaltéia, o que não só permite absorver o mito grego, mas também eleva os gémeos à condição de divindades); e da Roma de Eneias - que escapa do grande incêndio de Tróia acartando Anquises, seu pai, e Ascânio, seu filho para fundar uma nova Tróia, na península itálica, então Hesperia (tal como Cassandra previra na sua profecia). Ora, estes mitos heróicos e violentos - e muitas vezes misóginos, basta lembrar o suicídio de Lucrécia para apagar o crime do seu violador, o filicídio de Virginia para lhe poupar a castidade, ou mesmo o rapto das Sabinas -, conhecidos de todos, colocam a ação nas mãos de meia dúzia de eleitos convenientes para propagandear. Mas Roma não é fruto deles, ou melhor, Roma é também fruto de mitos menos heróicos e menos conhecidos, mitos locais, orientais como ocidentais, e, muitas vezes, apenas da realidade banal de todos os dias, da história de zés-ninguéns, de romanos, italianos, mas também africanos (e não só egípcios), turcos, gregos, gauleses e galeses, sírios ou hispânicos, sejam eles guardas pretorianos, senadores, imperadores, mercadores, escravos, comerciantes, professores, gladiadores e uma miríade de outros indivíduos, homens mulheres e crianças, acerca dos quais pouco ou nada ouvimos falar.
E é aí que entra Mary Beard e este SPQR que procura elevar a história de Roma a uma história social e cultural introduzindo no debate o senado e o povo. E que história, e que viagem esta!
Recuando ao primeiro milénio de Roma, Beard leva-nos aos primórdios daquilo que significa ser romano, aí por volta do século VI a.C., numa <i>comunidade urbana, com um centro e alguns edificios públicos.</i> A partir daqui, num périplo de cerca de mil anos, e num crescendo que acompanha a criação e o desenvolvimento de uma pequena urbe romana num imenso império ultramarino, a autora questiona as origens do sentimento nacionalista/imperialista e o modelo de expansão romano, tecendo considerações pertinentes sobre a sua idealização e execução...

<i>(...)os romanos não planearam conquistar nem controlar Italia. Nenhum romano planeou no século IV a.C. sentar-se com um mapa, conspirando uma ocupação de terras mum modo territorial que associamos às nações-estado imperialistas nos séculos XIX e XX. Para começar, por mais simples que pareça, não tinham mapas. O que isto implica para o modo como eles, ou qualquer outro povo «pré-cartografado», concebiam o mundo à sua volta, ou simplesmente que avistavam, é um dos grandes mistérios da história.
(...)o domínio romano era, em primeiro lugar, sobre o povo, não sobre os locais.</i>

...e discorre sobre as subsequentes e inevitáveis questões que rodeiam o tema da escravatura, esclarecendo que a libertação, ou compra da liberdade por parte dos escravos se dava a tal escala <i>que alguns historiadores reconhecem que, por volta do século V d.C., a maioria da população de cidadãos livres da cidade de Roma tinha escravos na sua árvore genealógica</i>.
Também inevitavelmente, Beard passa por assuntos mais rigorosos como o crescimento económico e a evolução cultural que estão implícitos quando se fala de expansão militar 
acrescentando que, entre as consequências  do sucesso militar ultramarino romano se podem contar a revolução literária, mas que, consequência ainda mais evidente dessa expansão eram os lucros que, em meados do século II a.C., faziam dos romanos o povo <i> mais rico de qualquer outro povo no mundo conhecido</i>. Lucros esses que adivinham não só do saque e roubo de <i>cidades e reinos do Oriente</i>, mas também do trabalho que utilizava milhares de cativos <i> nos campos, minas e moinhos romanos, que exploravam os recursos a uma escala muito mais intensiva do que nunca antes e alimentavam a produção romana e o crescimento económico romano</i>.

De forma consciente e cuidadosa, Beard aborda também questões como a miscigenação, decorrente da expansão e do número número de novos escravos que chegavam à península em resultado direto das vitórias ultramarinas, e que, no início do século I a.C., <i> ascendiam a mais de oito mil por ano, em média, isto numa altura em que o número total de cidadãos romanos adultos do sexo masculino, dentro e fora da cidade, eram na ordem dos 300 mil</i>. O que significa que, com o tempo, contando que grande parte destes escravos facilmente se tornava cidadão romano, o <i>impacto não só na economia romana, mas também na diversidade cultural e étnica do corpo de cidadãos, foi enorme</i> dando origem a que a <i>divisão entre romanos e estrangeiro</i> se tornasse cada vez <i>mais turva</i> e menos evidente.
Ente as teses maiores deste livro, Beard questiona ainda o modelo autocrático, sendo muito clara quando afirma que:

<i>o império criou os imperadores e não o contrário.</i>

O que é uma excelente introdução para o tópico da auto-colonização em que toca mais adiante, fazendo-nos saber que o modelo imperialista se autogeria, mais do que era gerido (uma reflexão particularmente pertinente se pensarmos na dificuldade de uma administração de um homem só):

<i>Fora das zonas de combate ativo, os romanos eram simplesmente demasiado poucos em número para governar de qualquer outro modo. No entanto, o carácter do domínio imperial fora crescentemente definido pela sua colaboração com a elite dos povos submetidos. Estes identificavam, por sua vez, os interesses próprios cada vez mais com os interesses dos romanos, tanto cultural como politicamente; acabaram por sentir que tinham algo a ganhar com o projeto romano, mais enquanto participantes do que como agentes externos; e alguns dos mais bem-sucedidos acabaram, a seu tempo, como cidadãos romanos, por assumir um lugar no governo central de Roma. Para estes homens e as suas famílias, a experiência do domínio romano era, em parte, a experiência de se tornarem romanos.</i>

Ainda nos tópicos maiores, as voltas e reviravoltas de <i>SPQR</i> não podem deixar de fora temas como religiosidade, religião e, claro, a divindade imperial:

<i>Através do mundo romano, o imperador vivo era tratado muito como um deus. Foi incorporado em rituais celebrados em honra dos deuses, era abordado com uma linguagem que se sobrepunha à linguagem do divino e presumia-se que tivesse poderes semelhantes. O nome de Augusto, por exemplo, fazia parte da formulação de algumas litanias religiosas. Escravos foragidos podiam reclamar asilo agarrando-se à estátua do imperador, como acontecia com uma estátua de um deus.</i>

Mas este livro é muito mais do que um manual focado em questões grandiosas sobre a formulação geográfica, económica, política e social de um império. Repleto de pormenores e factos pouco explorados, esta <i>História de Roma</i> vai ao detalhe do dia-a-dia, não só de imperadores e senadores, abordando questões de primazia, sucessão e mesmo da possível raiz da meritocracia...

<i>A adoção em Roma nunca fora o principal meio de um casal sem filhos poder criar uma família. Se alguém quisesse um bebé podia sempre ir buscá-lo a uma lixeira. A adoção fora sempre uma maneira de garantir a transmissão do estatuto e da propriedade, e a continuação do nome de família na ausência de filhos sobrevivos. Os adotados eram com maior frequência distintos adolescentes ou jovens adultos, mais do que bebés, cujo risco de morte os tornava um investimento pouco sensato.</i>
 
...mas também ao detalhe de questões do foro da vida quotidiana e do debate de género, não esquecendo nunca de fazer incidir luz sobre as convenções sociais e os modelos patriarcais que se impõem, a partir daqui, de forma coordenada sobre o ocidente...

<i>Um epitáfio, escrito algures em meados do século II a.C., comemorando uma certa Cláudia, capta na perfeição a imagem tradicional: «Eis o árido túmulo de uma mulher encantadora», pode ler-se. «Amou o marido com todo o coração. Deu à luz dois filhos. Um deixou por cima da terra, o outro por baixo dela. Era graciosa no discurso elegante no movimento. Mantinha a sua casa. Fiava lã. É tudo o que há para dizer.»</i>

...embora lembrando que as contradições do mesmo mundo romano que legaliza a execução de uma mulher adúltera, fazem deste um lugar onde as mulheres têm já muitos dos direitos que apenas recuperam bem adentradas no século XIX:

<i>A mulher não tomava o nome do marido nem ficava sob a sua autoridade legal. Depois da morte do pai, uma mulher adulta podia possuir bens por direito próprio, comprar ou vender, herdar ou fazer testamento e libertar escravos.</i>

É sempre importante lembrar que falamos de mulheres de uma classe social alta, mas que, quando assim é, estas podem usufruir de grande liberdade. Tanta como aquela de que Úmidia Quadratila, descrita por Plínio como <i>uma velhota rija com uma queda para os jogos de tabuleiro</i>, gozava, chegando até nós provas de que <i>patrocinou um novo anfiteatro e templo, restaurou o teatro e fundou um banquete público («para o conselho local, o povo e as mulheres») em celebração das novas instalações.</i>

Depois de uma incursão pela política, a arquitetura, a vida militar e a quotidiana, as profissões, a religião, a política e a geografia de tudo aquilo que faz o sentimento de ser romano, Beard escolhe terminar a sua narrativa no ano 212 d.C., com o decreto de Caracala que atribuía a  <i>todos os habitantes livres do Império Romano, onde quer que vivessem, desde Escócia até à Síria</i> (a cerca de 30 milhões de pessoas) a cidadania romana. <i>SPQR</i> começou com uma revolução - eu não falei dela - e acabou com outra. Pelo caminho ficaram reis e imperadores, conquistadores e conquistados, cidadãos e escravos, e mil anos de uma história (que ainda não terminou). No mundo romano cabe de tudo, desde momentos heróicos a baixezas vis; da abertura de possibilidades sem igual para as mulheres a uma construção arquetipal que viria ainda hoje a limitar as nossas liberdades. E, não sei como, Mary Beard consegue falar de tudo isto, e fazer sentido de tudo isto em cerca de 600 páginas.
Um trabalho hercúleo! E o adjetivo não podia ser mais apropriado.
challenging informative

This one took a LONG time to read, but I'm always so slow on non-fiction. It was well written and laid out in a manner that made it possible to injest in smaller chunks. Beard is a good writer and very knowledgeable on this topic. There were many tidbits that could launch a person down other roads of inquiry, also.  It managed to give me historical hope for our current times; what seems so dire and pressing in the moment becomes more tolerable when one realizes that political nonsense has been the norm for millennia; there will come a day when historians make sense of things that are confusing and disturbing in the now.