brunomonteiro's reviews
107 reviews

Manhã by Adília Lopes

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4.0

Não sou um leitor assíduo de poesia. No entanto, ler a poesia de Adília Lopes — pseudónimo da poetisa e tradutora Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira — foi uma descoberta desconcertante. No seu estilo marcadamente infantil e naïf, retrata a vida mundana e a memória de uma forma singular e, porventura, única no panorama literário português.

A minha avó dizia
quando matava
uma pulga
já ganhei o dia
eu quando escrevo
um poema bom
digo como a minha avó
já ganhei o dia

Não gosto de matar


- p.97
Entrevistas da Paris Review by Carlos Vaz Marques

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5.0

Comecei a leitura da edição portuguesa das entrevistas da Paris Review pelo terceiro e último volume. Adorei. A edição em língua portuguesa de um conjunto de entrevistas realizadas por uma das revistas literárias mais importantes de sempre é, em si, um acontecimento que devemos estimar e apoiar. Não descansei até ter adquirido também o primeiro e segundo volume.
Neste primeiro volume podemos ler entrevistas a William Faulkner, Graham Green, Truman Capote, Jorge Luis Borges, Boris Pasternak, Jack Kerouac, entre outras. Gostei imenso da maioria e recomendo vivamente a leitura a quem queira ter um vislumbre breve da vida destes escritores, do seu pensamento e dos seus processos de criação literária.
Mendel dos Livros by Stefan Zweig

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5.0

Neste curto de livro de ficção, Stefan Zweig narra a estória de Jakob Mendel um judeu galiciano que se estabelece como alfarrabista num pequeno café de Viena. Mendel é o arquétipo do bibliómano obcecado que "olhava, através dos seus óculos, a partir daquela mesa quadrada para o outro universo dos livros, que gira e renasce da mesma forma perpetuamente, para aquele mundo sobre o nosso mundo"(p.58). É, indiscutivelmente, um livro do seu tempo uma vez que a narrativa de Mendel é também a narrativa dos efeitos nefastos da primeira e segunda grande guerra na Europa do início do século XX que foram certamente determinantes para o suicidio de Stefan Zweig em Fevereiro de 1942.

"Só então, com a idade, compreendi quanto é o que desaparece com semelhantes seres humanos, primeiro porque tudo o que é único se torna, dia para dia, mais valioso no nosso mundo que se vai tornando irremediavelmente uniforme." - p.60
Dias e Dias by Adília Lopes

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4.0

No confinamento, e sempre, precisamos da voz de Adília Lopes.

"Ouvir a musa é desgastante, um frenesi. Volto a escrever como aos 11 anos, quando andava no segundo andar do autocarro da Carris. Tenho 60 anos adolescentes." - p.55
A Arte da Viagem by Paul Theroux

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3.0

Este livro de Paul Theroux, que é aliás o primeiro do autor que leio, é uma espécie de “colecção” sortida de curiosidades sobre o tema da viagem ou do acto de viajar. Alguns capítulos, como Viajantes Sobre os Seus Próprios Livros e Jornadas Imaginárias ou mesmo Escritores e os Locais Que Nunca Visitaram, despertaram o meu interesse e foram de leitura prazerosa. Outros capítulos nem tanto… e isso, para mim, marca a sensação de que se trata de uma cambulha heterógenea com um interesse relativo para alguns leitores.
O Milagre Espinosa - Uma Filosofia para Iluminar a Nossa Vida by Frédéric Lenoir

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4.0

Lenoir escreve uma boa introdução ao pensamento de Baruch Espinosa, um filósofo desconhecido do grande público cujas ideias inovadoras perduraram até aos nossos dias influenciando vários "gigantes"int como Goethe, Nietzsche, Sigmund Freud e Einstein, entre outros. Se o intuito do autor foi divulgar a obra de Espinosa e promover o interesse por descobrir a sua filosofia, creio que foi bem sucedido.

"Pacto social, democracia, laicidade, igualdade de todos os cidadãos perante a lei, liberdade de crença e de expressão: Espinosa é o pai da nossa modernidade política. Um século antes de Voltaire e Kant, e até mesmo algumas décadas antes de Locke, que publica a sua notável carta Carta sobre a Tolerância em 1689, Espinosa surge como o primeiro teórico da separação dos poderes político e religioso, e como o primeiro pensador moderno das nossas democracias liberais." — pp.97

"Os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas em que eles têm consciência das suas acções e são ignorantes das causas pelas quais são determinados." — pp.162