You need to sign in or sign up before continuing.

challenging dark mysterious reflective sad tense slow-paced

The second volume is not what I was expecting for the end of the Brothers Karamazov, but I was not disappointed by the work itself. The trial portion in particular reminded me of the author’s argument in his “Notes from Underground” about the erratic nature of human individuality. The emphasis put on the importance of a happy healthy childhood was also unexpected, but a welcome element that lightened the mood from the darker ends of other plots of the story.
challenging dark emotional funny hopeful mysterious reflective tense slow-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: N/A
Flaws of characters a main focus: Yes

nzagalo's review

5.0

Não tenho muito para dizer de novo sobre uma das obras mais estudadas de sempre. Talvez não surja tantas vezes no topo de listas de livros como outras emblemáticas — Guerra e Paz, Ulisses ou Em Busca do Tempo Perdido — mas isso não faz com que represente menos, talvez se deva apenas ao facto de ser uma obra mais simbólica e menos realista ou artística, o que acaba também por a tornar mais apetecível em termos de estudos académicos. A escrita, a estrutura e a história são muito boas, mas não são excepcionais, o que aqui é excepcional é o modo como a ideia central é trabalhada, como se construiu todo um enredo, personagens e ambientes, aparentemente iguais a tantas outras obras, para no seu interior se depositar uma questão.

Porque sentimos necessidade de acreditar em Deus e ao mesmo tempo não conseguimos deixar de o refutar?

“Os Irmãos Karamazov” apresenta-se como uma história de parricídio, na qual uma pessoa de poucos escrúpulos, ou nenhuns, tem quatro filhos, um de uma primeira mulher, dois de uma segunda mulher, e um terceiro bastardo e não reconhecido, desprezando-os e despojando-os de potenciais heranças, até que um dia um destes quatro acaba por o matar. O miolo da história acaba por se desenrolar em volta dos 4 irmãos, e da tentativa de perceber de entre eles qual terá sido o verdadeiro assassino, sendo nós levados a acreditar que qualquer um deles o pode ter feito, nem que seja apenas no plano moral.

Dmitri, o mais velho, é o mais humano, pleno de defeitos, sem grandes louvores, mas em oposição é alguém pleno de valores, defensor da dignidade e honra até às últimas consequências. Ivan é o racionalista, aquele que tudo questiona, e que garante que na ausência de Deus tudo é permitido. Por sua vez Aliocha é o contrário de Ivan, nada racional mas verdadeiramente crente na espécie humana e em Deus. Por fim Smerdiakov, o filho bastardo, integra elementos de todos os três, é fraco de saúde, muito humilde, mas também muito inteligente e por isso extremamente racional. Como se depreende destas quatro personagens centrais, o cerne da família Karamazov assenta na contradição de espírito, derivando daqui o adjetivo karamazoviano, pelo facto da complexificação que se germina em redor destes já que nada é linear, tudo tem um contrário. Dmitri é um doidivanas, só pensa em mulheres, mas é dono de uma honra férrea. Por outro lado Ivan e Aliocha, os dois irmãos da mesma mãe, são reverso um do outro. Por fim Smerdiakov, o mais complexo de todos, visto como mero servo, mas capaz de perscrutar o interior da alma de todos os seus irmãos, debatendo-se interiormente sobre o que fazer com o conhecimento que deles absorve.

Toda esta descrição acima só é possível graças ao labor psicológico de Dostoiévski que nos consegue levar junto de tais personagens e fazer-nos sentir como eles sentem, ao que se junta todo o labor filosófico para criar as condições para a pergunta central do texto. Mas sobre isso convido quem ainda não leu a parar aqui a leitura, já que irei abrir o jogo para poder debater o que está em questão no cerne da obra.

À superfície “Os Irmãos Karamazov” é aquilo que descrevi acima, embrulhado numa trama de eventos detectivescos carregados de descrições para aguçar o interesse, contudo no levantar do véu e procurando respostas para alguns quadros menos tradicionais vemos que existe algo mais, por debaixo da camada de quotidiano realista Dostoiévski surpreende-nos com o simbolismo da fé. A obra contém assim dois momentos principais, a parábola do Grande Inquisidor a meio do livro, e o julgamento de Dmitri no final, estes dois eventos apesar de totalmente separados, e contendo discursos sem qualquer ligação aparente, fazem parte da mesma discussão, elevando a força simbólica do texto, tornando a obra, como dizia acima, absolutamente brilhante e obrigatória em qualquer cânone.

A parábola do Grande Inquisidor é uma história contada por Ivan, que surge depois deste questionar: se Deus existe, porque permite a existência do mal? Assim Ivan dá conta de uma hipotética conversa ocorrida no século XVI, em Sevilha, entre o Grande Inquisidor e Jesus regressado à terra. Nesta o Inquisidor acusa Jesus de ter falhado ao não aceitar nenhuma das três tentações do Diabo no deserto (transformar pedra em pão; deixar-se cair do templo e ser salvo por Deus; e tornar-se o senhor da Terra) apenas para garantir a liberdade de arbítrio dos seres humanos, já que desta forma teria transformado a liberdade num peso. Ou seja, não é a evidência dos milagres aquilo que todos procuram para aplacar as dúvidas, porque Jesus não acedeu então? Ser livre de acreditar, coloca sobre nós o ónus da evidência.

Para o Inquisidor esta liberdade acabaria por nos aprisionar em vez de libertar, e é por isso que manda prender Jesus, dizendo-lhe, os humanos já não precisam de ti, a Igreja desenvolveu as ferramentas necessárias para acabar com o sofrimento, com a dúvida, mostrando e ordenando sobre aquilo em que se deve acreditar, não te queremos por cá a questionar novamente tudo.

Além da crítica à igreja, Dostoiévski toca aqui a essência do ser. Uma vez adquirida a capacidade cognitiva de conhecer e interpretar o real, e na completa incapacidade para chegar à resposta ao porquê da existência, sentimo-nos tocar o vazio que na ausência de objeto torna impossível teorizar, racionalizar e no fundo tomar qualquer decisão ou agir em liberdade. Ao Inquisidor, Jesus responde com um beijo, o amor infinito é a única reposta possível, e capaz de dar conta da dúvida.

Para dar conta desta mesma ideia Dostoiévski fecha o livro com o julgamento de Dmitri, o irmão julgado culpado pela morte do pai injustamente e enviado para a Sibéria para os trabalhos forçados. O júri na impossibilidade de chegar à verdade acontecida, opta por seguir a via do racional e não a do amor ao próximo, teses contrárias defendidas pelo procurador e advogado de defesa. Quando os indícios apontaram a Dmitri, estes foram incapazes de ver para lá das provas circunstanciais, tal como acontece com a pergunta “se Deus existe, porque permite a existência do mal?", fazendo com que ambas conduzam à descrença. Por isso é que apenas Aliocha acredita em Dmitri, já que este é o único que aprendeu a crer, aquele que não se deixa levar pela superficialidade do racional, decidindo em virtude daquilo que sente. Personagem este que é o eleito como principal ao longo do livro pelo narrador e fecha o mesmo numa tentativa de nos mostrar o caminho…

Não estou a dizer nada de novo, mas impressiona ver o alcance deste escritor, como a esta distância teve a clarividência para separar o racional do transcendente, assumindo a fulcralidade da razão mas não esquecendo que esta também pode deturpar a nossa visão. Nem tudo pode ser respondido pela racionalidade dos eventos, e quando assim é precisamos de ser capazes de aceitar outras visões, mesmo que na ausência de evidência (ex. milagres). Não se defende aqui a crença, assim como não se defende a não crença, o escritor navega completamente no limiar entre os dois lados.

Dostoiévski morria quatro meses depois de publicar “Os Irmãos Karamazov”, com 59 anos, dava aqui conta de todo o seu percurso de vida, de toda a intensidade vivida, do questionamento interno, do querer acreditar mas sempre duvidar, da inconstância das ideias e do contraste constante entre as mesmas, sendo tudo isso aquilo que plasmou de modo simbólico nesta monumental obra. Será que tudo se finda no último minuto?


Textos consultados
Depois de terminar livro procurei mais algumas informações sobre o texto, e acabei por ler vários textos, muitos irrelevantes, outros que me ajudaram e colo aqui abaixo. Tendo em conta o carácter simbólico do texto, encontrei várias interpretações, bem distintas, e segui as ideias que mais me falaram. Percebo as abordagens que procuram ver no texto a oposição comunismo/capitalismo, percebo as abordagens que se focam no modo como as histórias servem para iludir o real, percebo também aqueles que usam o texto para criticar a igreja, mas não foi por aí que optei por seguir. Senti antes, nomeadamente tendo em conta o historial de vida do escritor que aquilo que estava aqui em questão era muito mais profundo que isso, era algo individual, que cada um de nós tem de confrontar na solidão do seu interior.

. The Reification of Evil and The Failure of Theodicy: The Devil in Dostoevsky’s The Brothers Karamazov
. The Relation between Dostoevsky and the Characters of The Brothers Karamazov
. The Brothers Karamazov: Theme Analysis
. Why Did Jesus Kiss the Grand Inquisitor?
. The Metaphysical meaning of the Legend
. Book of a lifetime: The Brothers Karamazovby
. The Brothers Karamazov
. The Grand Inquisitor


Aceder aos links dos textos na versão completa em: http://virtual-illusion.blogspot.pt/2016/03/os-irmaos-karamazov-sombra-da-duvida.html

Kakva knjižurina! Čudo!
challenging dark emotional reflective slow-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Flipping through Brothers Karamazov again for an essay writing assignment. Hands down the best book I've ever read.

This chapter was bizarre. I haven't even finished the second volume yet, but it's practically hard for me to get through this chapter without having a little internal discussion over it. I'm listening to Hozier while having these thoughts, and I can't imagine a more ecstasy state of mind to have this chat. Let's begin, shall we?
Starting by how Ivan chose to leave out adults from the conversation at the very beginning of the chapter to demonstrate a highly delicate matter. God's judgement. He will not even speak of the adult human's suffering because he has already "eaten the apple," and he is responsible for his own deeds. He chooses to demonstrate the world's injustice by displaying accidents impacting mainly children. I was completely triggered by his discussion, not because I was unaware of the suffering of those children; in fact, I did experience it myself, but because I was taken aback by how he began the conversation with this, only to end up discussing a highly complicated flaw in human nature.
Their endless hunger for pain. Seeing others suffer, especially defenceless creatures such as animals or children. I've never had genuine empathy for an adult human being, but once a child or an animal is involved, I'll cry like a baby over minor problems, not to mention serious ones. Simply because they have no way whatsoever to protect themselves against their abusers. This highlights how the suffering of those children is an awful price to pay for greater happiness in the afterlife. He refers that God decided not to intervene in all of these children's sufferings because they would be repaid for all of their suffering in the afterlife. But what have they done to even pay the price? And if it wasn't the children who were supposed to pay the price, and they were only used to make their parents suffer over the loss of their children, why should it be them who have to suffer all of this for their parents to pay the price for their own mistakes? If, in the end, the mother will forgive the soldier who killed her child, the father will forgive the man who beaten his own child to death, and the people will forgive the parents who tortured their own children until they died, then what about all of those children? Those who were brutally murdered? How would they forgive their own parents, who were expected to protect them in life but then decided to ignore the bloodshed in order to be close to God's mercy? How can heaven be accepted knowing that this is the price of their happiness? That is when Ivan finishes by rejecting the God who will accept all of these sufferings as a price for greater happiness. And then he challenged Alyosha by putting him in a difficult position by asking him whether he would accept if he had the choice to grant all humans all over the world an unending happiness free of sorrow and suffering in exchange for letting just one child pay for this happiness with his own blood? That's when Alyosha claimed he couldn't, showing that he himself doubts God's judgement.
But God's judgement is something that a mere human being cannot possibly understand. It is beyond this world, and no amount of intellectual effort will ever bring us close. And it's pointless to try to explain any of this because we simply don't have the capacity to comprehend it. But here, Ivan begins to describe how frail a human being may become. And how God raised humans to a much greater level than they deserve. And allowing people complete freedom to choose was the worst decision because man has a very weak soul and will be willing to sell himself for someone who will simply decide for him what to do or not do. Despite the fact that certain persons have a very powerful soul and can decide and follow God blindly believing in him. But they are a small minority in comparison to the rest of humanity, who will spend eternity in hell for not making the right choice.
He then goes on to explain how God will sacrifice all of those humans for the sake of such a small group of people who will reject the devil and choose God. And how, because of the freedom that God gave to humans, he didn't comprehend human nature and how they need someone to teach them what's right and wrong, who to follow and who not to follow. Man will not want to make his own decision since it is too much for him to bear. Humans are in need to restrict their own freedom since there are no limitations or boundaries to what an individual can do if he is free of morality or religious connotations. This is the power the Inquisitor was referring to: the ability to direct humanity and shield them from their own selves. The power that humanity chose to follow rather than being forced to.
In Ivan's story, the Inquisitor, a man who thinks himself an ally of Satan, is portrayed as an honourable human being who acts against God but with humanity's best interests in mind. Ivan does not believe that God acts in the best interests of humans, but the implication that human nature is so weak that it is better to surrender to Satan's power is a radical approach to the dilemma of free will. Ivan's attitude derives from the psychology of doubt; his cynicism prevents him from seeing anything but the negative aspects of human nature. He argues that rather than making their own decisions, people would be better off under the control of even a false religious authority.
God responded by kissing him and then leaving gently. That was all he had to say in response to the Inquisitor's confession to God that he does not follow him, but rather Satan and his ways. Even after all of the accusations levelled against him, God chose to forgive and accept the inquisitor's dissection since he made this choice of his own free will after going with God's will at first and then still choosing to serve Satan. God's forgiveness is always greater than anything. He was looking at him with such merciful eyes that the Inquisitor begged him to be angry with him, but God accepted his own creation's decision to be against him, and just gently left..
challenging slow-paced
Plot or Character Driven: A mix
Loveable characters: Complicated
Flaws of characters a main focus: Yes
marta_s05's profile picture

marta_s05's review

4.75
challenging dark emotional reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes